No dia 29 de agosto, o Pibid de História da UFPE desenvolveu atividades no EREM
Professor Trajano de Mendonça, em Jardim São Paulo, utilizando a prática
teatral como instrumento do ensino de História. A aula intitulada "A
estética do Teatro do Oprimido desconstruindo o "Ciclo do Ouro" no
Brasil" vivenciou a técnica "Teatro-Imagem" com os 2º anos A e B
da escola.
"Espectador, que palavra feia!" (BOALl, 1991) o Teatro do
Oprimido permite que atores e não-atores tenham a vivência teatral e utilizem o
teatro como meio de transformação. O "espectador", o "sujeito
passivo", assume papel protagônico, ensaiando para ação real e também
conseguindo atribuir significados ao grupo social do qual faz parte.
A poética do Oprimido (1997) nos permite aproximar aqueles que não se
enxergam como sujeitos ativos do teatro (e do mundo) a fazerem parte do jogo (e
também da vida).
Alunos participam da dinâmica e se divertem.
Antes da aplicação do plano, fizemos uma avaliação inicial para tomarmos
conhecimento de qual era a relação dos alunos e alunas com o teatro. E como
resultado foi possível perceber que a ida ao teatro não fazia parte das
práticas realizadas pela maioria dos estudantes e que eles sequer tinham acesso
às informações sobre as práticas culturais do Recife e Região Metropolitana.
Neste sentido, indicamos para eles e elas sites e páginas nas redes sociais
através das quais eles poderiam obter informações a respeito das peças que
estão em cartaz no Recife.
O plano de aula foi pensado para que o conteúdo estudado anteriormente
pelos estudantes fosse revisado e também rediscutido através da prática e do
exercício do jogo cênico. Para isso, tivemos como ambiente o auditório da
escola, nele formamos um círculo com os estudantes para iniciar o aquecimento,
que por sua vez tinha como objetivo que os alunos iniciassem um processo de
tomada de consciência dos próprios corpos, além de é claro, coloca-los na aula.
O aquecimento contou com dois momentos que merecem atenção, primeiramente os
estudantes deveriam caminhar pelo auditório e sempre que cruzassem com um
colega, desejar-lhe "boa tarde". Esta foi uma proposta que nos deu
retorno na medida em que permite aos estudantes estabelecer uma interação que
muitas vezes é deixada de lado no dia a dia e deslocar seu olhar. Como colocou
uma das alunas, por mais que convivam diariamente é raro que se cumprimentem.
Em segundo lugar introduzimos alguns comandos. Quando ouvissem o termo
"congela" deveriam parar como estivessem e fazer uma estátua nos
"planos baixo, médio ou alto", conforme indicado por nós.
Alunos representando peça teatral.
Após esse aquecimento, partimos para um exercício em dupla: "o
espelho". Sem falar, um deveria ser o reflexo do outro, buscando fazer
exatamente os movimentos que seu parceiro ou parceira fazia. Buscamos a
coletividade em todos os momentos e o perceber o outro. Os jogos, por sua vez,
nos permitem aguçar a expressividade do corpo e nos dá consciência de que ele é
também emissor e receptor de mensagens.
E assim, chegou a hora de associar o jogo ao estudo de História. Através
do teatro-imagem, que conta com um jogo cênico chamado "escultor".
Pedimos para que os estudantes se dividissem em dois grandes grupos e a estes
que se subdividissem em mais dois (A e B). Para que assim, pudéssemos fazer com
que A esculpisse os corpos dos integrantes do grupo B como se estes fossem
estátuas e vice-versa.
Sorteamos temas que estavam inseridos dentro da temática do “Ciclo do
ouro”, como escravização, inconfidência mineira, além de personagens como
indígenas, bandeirantes, senhores de engenho e a coroa portuguesa, para que o
grupo escultor pudesse expressar sua opinião através do que esculpisse no grupo
esculpido, estabelecendo uma representação física do tema. Cada detalhe pode e
deve ser levado em conta na hora de esculpir, a expressão facial, a posição das
pernas, dos braços, etc.
A atividade foi marcada pela interação entre bolsistas e alunos.
A conclusão do trabalho foi feita através da projeção no datashow das
imagens que eles haviam esculpido para que toda a turma pudesse visualizar, seguida
da discussão feita a partir destas imagens que exprimiram versões muito
específicas da História como, por exemplo, quando um dos grupos esculpiu os
bandeirantes enquanto heróis, mas em outra turma são colocados como pessoas
violentas. ou quando outro grupo colocou os indígenas enquanto guerreiros,
enquanto os negros escravizados foram retratados quase todos amarrados e sem
defender-se. Durante o debate, além de buscarmos conversar a respeito deste
tradicional maniqueísmo estabelecido nas relações históricas, tentando
chamar-lhes atenção para outro olhar, claro que sem diminuir o sofrimento pelo
qual os negros e os indígenas passaram durante o período do “Ciclo do ouro”.
Além de tentar desfazer esta ideia de heróis e vilões, tentamos também
fazer-lhes perceber que haviam outros meios possíveis de retratar os temas que
propuseram, como exemplo podemos citar o caso dos negros escravizados que
poderiam ter sido retratados num momento de resistência ou num quilombo.
A experiência foi gratificante em mão dupla, isto é, para nós, que
pudemos nos regozijar com os argumentos apresentados durante o debate e durante
a explicação das propostas das esculturas. E para os estudantes que puderam
vivenciar um meio novo de aprender História, saindo da rotina da sala de aula
com cadeiras para permanecer sentados e quadro branco.
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