HISTÓRIA LOCAL E O ENSINO DE
HISTÓRIA: DAS REFLEXÕES CONCEITUAIS ÀS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS
Manoel Caetano do
Nascimento Júnior[1]
manoel_nascimento01@hotmail.com
Profª. Drª. Isabel
Cristina Martins Guillen (orientadora)[2]
Introdução
As problematizações aqui
explanadas estão embasadas em alguns momentos pedagógicos – recentes – com o
uso da metodologia da história local aplicadas com intuitos educacionais, onde
estiveram envolvidos alunos da graduação, professores universitários,
professores e discentes da rede pública do ensino fundamental e médio da região
metropolitana do Recife. As ideias a
seguir não pretendem servir de padrão, mas a intenção é poder ajudar no
estimulo, para que ações educativas nesse viés venham a ser elaboradas. O
objetivo maior é de que os problemas enfrentados no cotidiano escolar possam,
dessa maneira, ser atenuados ou, até mesmo, esclarecidos.
As experiências
vivenciadas estão inseridas nas atividades do PIBID de História da UFPE, campus
Recife, que é composto por 05 equipes, de 05 alunos da graduação, divididos em
05 escolas públicas da cidade. Se objetiva, entre outros procederes, pela
inserção dos licenciandos no cotidiano de escolas da rede pública de educação,
oportunizando a criação e participação em experiências metodológicas, tecnológicas
e práticas docentes de caráter inovador e interdisciplinar que pretendam
superar problemas identificados no processo de ensino-aprendizagem, como por
exemplo, a suplantação de barreiras que opõem a teoria e a prática na docência
(PIMENTA, S.G E LIMA, 2008), contribuindo, dessa forma, na formação dos
docentes e elevando o nível das ações acadêmicas nos cursos de licenciatura.
Em 2015, a professora
Drª. Isabel Cristina Martins Guillen juntamente com a professora Drª. Adriana
Maria Paulo da Silva, coordenadoras do PIBID de História da UFPE, desenvolveram
uma proposta sobre a história dos bairros nos quais as escolas públicas que
receberam os alunos da licenciatura estavam situadas. Os grupos de graduandos do
PIBID tinham o propósito de responder a problemática central que envolvia os
bairros “as transformações urbanas na cidade e como impactavam na vida das
pessoas”. É necessário ressaltar que no Recife vivíamos essa grande discussão
devido a repercussão do movimento Ocupe
Estelita.[3] Numa
das escolas da ação, como por exemplo a situada no bairro da Torre, os
estudantes da graduação conjuntamente com demais membros da comunidade escolar
promoveram o ‘Ocupe a Torre’ levando alunos da escola e moradores do lugar a
interagir e discutir as transformações na paisagem e a especulação imobiliária
que cresceu na área recentemente (GUILLEN, 2016, no prelo).
Estimuladas por essas
questões as professoras propuseram atividades de pesquisa-ação para as escolas
envolvidas no projeto com o intuito de que os alunos do ensino básico
percebessem e fossem conduzidos a refletir sobre as transformações que ocorrem
nos bairros em que moram. Neste sentido o intuito era sair do tradicional
método que as escolas adotam e envolver ensino e pesquisa na escola básica,
pensando justamente em uma ação educacional modificadora (GUILLEN, 2016, no
prelo).
Foram selecionados para
esse projeto lugares que propiciassem reflexões sobre a história de Recife e de
seus bairros, de maneira a estabelecer relações com as questões que a cotidianidade
levantava e, dessa maneira, articular um trabalho de campo – na medida em que
alunos da graduação e alunos do ensino básico foram instigados a frequentar e
pesquisar aspectos de seus bairros – e posteriormente, com esse levantamento de
pesquisa, vislumbrar a possibilidade de ressignifação de alguns conteúdos
tradicionais da cultura escolar.
Neste bojo é evidente a
necessidade de um estudo mais aprofundado do que seja a história local e como
ela se situa no campo do conhecimento histórico. Logo depois uma explanação das
possibilidades e desafios do trabalho com a história local no ensino de
história e por fim os resultados advindos de tais intervenções.
Estudar a história local
– no âmbito do PIBID – consistiu em um exercício de tentar entender e pôr à mesa
os desafio, as incertezas e as contribuições decorrentes do uso da referida
metodologia – tanto no ensino como na pesquisa. Ao se debruçar no tema, é
perceptível não haver consenso dos limites e possibilidades deste recurso, mas
quando pensamos no trabalho com o ensino de história, com a aplicação de um
momento pedagógico que valoriza a história do homem e da mulher comum,
inserindo alunos, professores e muitas vezes outros sujeitos às aulas de
história, percebemos a necessidade de tentar, mesmo que de forma tímida,
cascavilhar as discussões em torno da produção da história local, situá-la no
tempo, repensá-la.
Pensar a história local
parece nos conduzir a uma ideia “nova de batalha”[4]
. De uma tentativa instigante de vislumbrar o movimento de certa história que
perceba as várias dimensões existentes e para além de olhar os aspectos
nacionais e internacionais, atentem para recolocar nas discussões e construções
de hoje, as questões locais.
Aplicar a história local
na contemporaneidade se assemelha a tarefa de compreender que a história está
presente em diversos lugares, em todos os momentos. De que o local, está
diretamente relacionado aos espaços e contextos para além de um ambiente
definido e onde as circunstâncias sociopolíticas, econômicas e culturais
vivenciadas no cotidiano de cada indivíduo interfere e são modificadas por
esses mesmo sujeitos. Santos (2002) vai
dizer que “Operar com essa abordagem da história, portanto, importa compreender
que as realidades históricas de determinada localidade e de seus habitantes no
tempo não se dão isoladamente do mundo, e sim como partes desiguais mas vivas,
ativas e inseparáveis dele”.
Um
lugar à história local
Atualmente
é perceptível que há um alargamento de interesse dos Historiadores pela questão
local, especialmente nessas duas primeiras décadas do século XXI, pois
ampliaram-se bastante apresentações de trabalhos acadêmicos e outras abordagens
entorno dessa temática. Mas não foi de forma súbita que ela emergiu. Desde a
década de1970 ela vem ganhando espaço e ressignificações. Como bem aponta
Proença (1990, p. 139), ainda na década de 1990: “A História Local tem
conhecido, nos últimos anos, um progressivo, desenvolvimento devido ao
interesse da investigação histórica atual, pelo estudo das comunidades locais”.
Mas
esse ganho de papeis na construção da História, por parte da história local,
está intimamente ligado com a crescente desconfiança nos modelos que pretendem
as macroabordagens. Uma característica de nosso tempo, como lembra Terry
Eagleton (2016), é ser de incertezas e instabilidades, estas são tantas, que
fica dificultoso estar distante da perplexidade e acomodar-se. Nesse sentido,
entenda como um movimento contemporâneo de rejeição as abordagens totalizantes,
valores universais ou grandes narrativas históricas. Para este autor o nosso
tempo é duvidoso a respeito de questões como verdade, unidade, progresso e
opõe-se ferozmente a todo tipo de elitismo na produção do conhecimento. A
tendência desse tratamento é a “descontinuidade e a heterogeneidade” (EAGLETON,
2016, p. 27).
No
Brasil, por exemplo, houve durante o século o século XIX e até meados do século
XX, com a produção dos memorialistas, organizada em estudos das histórias
locais, uma escrita que procurou estabelecer uma identidade nacional brasileira
que explorasse mecanismos de homogeneização, na qual aspectos políticos e
econômicos eram a célula central.
Nesta
linha de raciocínio, ser mineiro, gaúcho, pernambucano era o que determinava a
identidade brasileira. Não se tinha o intuito de estudar as diferenças entre os
espaços definidos, muito menos, de analisar as subjetividades diferenciadas de
cada grupo, as formas de organização em “sindicatos e associações”, ou como
lidavam com as questões do cotidiano (MELO, 2015, p. 30).
Essa
perspectiva se manteve durante os períodos de governos ditatoriais onde se
procurava a homogeneização dos diversos grupos que compunham e compõem o
amálgama da sociedade brasileira. O intuito era de legar aos indivíduos os
feitos dos grandes heróis e de colocar no hall da fama da História, figuras
restritas, como representantes do que seria a nacionalidade. Este viés
sustentaria o Estado-nação (BITTENCOURT, 2008)
Ainda
no recorte brasileiro, a partir da década de 1980, há um esforço por quebrar
essa lógica totalizante e homogeneizante – muito disseminada, por exemplo, no
ensino – com base na produção que se constituía na Europa, como por exemplo, a
nova História Francesa com seu enfoque no cotidiano e na memória, a história
social inglesa e a Micro-história italiana ao analisar as escalas de
observação. Toda essa exteriorização das novas perspectivas de trabalho do
Historiador, além de abrir caminho ao estudo da história local, mostrou que
antigas formas de trato da história, como foi o caso do marxismo, já não
estavam conseguindo dar conta das necessidades explicativas à nova forma de
organização social.
A
história local, durante o processo de constituição e solidificação como campo
de estudos, foi encarada diversas vezes, como uma abordagem
teórico-metodológica que só contava a história de um determinado lugar, fechado
em seus limites político-administrativos. Dessa forma, descrevendo os feitos
dos líderes locais, selecionando os ‘bons’ homens do local para receber as
honras de escrever o nome na História. Com isto ia se construindo narrativas
empobrecedoras, pois se limitava a situações localistas[5] e
elitistas.
É
importante levantar a discussão de que, a história local se permite hoje tais
aproximações com outros modos de construção histórica, por ter reconfigurado
suas bases, por ter saído de uma interpretação Local tradicional e, pelo
surgimento de uma nova história local. Esta, só foi possível pelas
ressignificações de região, território e lugar por parte da Geografia que,
paulatinamente, passou de uma postura de região tida como dado natural, para
considerar as ações humanas e suas contradições sociais na formação, e
reconstituição do espaço. Ou seja, na nova configuração do que se constitui
como local, é de suma importância a familiaridade do sujeito com um determinado
espaço. Desse modo, não há a necessidade de precisar um espaço de forma a
defini-lo – uma perspectiva limitada de espaço –, mas vivencia-lo, pois à
medida em que nos apropriamos do local “o dotamos de valor” (FERREIRA, 2000, p.
65).
Numa
perspectiva de história local tradicional a área geográfica natural é
preponderante, se estudam flora e fauna e se elaboram relatos dos grandes fatos
ocorridos em determinado espaço. Dessa maneira a produção da história local é
ufanista; exaltadora dos grandes feitos da localidade. É uma época onde imperam
as corografias que são, justamente, essas explanações laudatória e apoteótica
de elites com feitos gloriosos (CORRÊA, 2012, p. 15).
Já
a nova história local tem o intuito de estudar realidades locais com o uso de
uma metodologia variada e sem excluir as ligações possíveis. O espaço na nova
analise não se restringe ao político-administrativo, mas foca o estudo do
local. Este, por sua vez, pode ser entendido como um lugarejo, aldeia, vila,
bairro e cidade. Se valoriza nessa perspectiva uma visão do homem como agente
social, econômico e político da História, não uma parcela da população, mas a
totalidade das pessoas.
Um
livro que nos possibilita entender a história local nova, pode ser o do
professor da Universidade Federal de Pernambuco, Antônio Torres Montenegro,
intitulado “história oral e memória: a
cultura popular revisitada”. Neste livro o professor procura estudar
diversos aspectos da cultura popular através da metodologia da História Oral –
outro recurso para a construção da história local. Por meio desta abordagem ele
nos apresenta as batalhas, as disputas e os medos imbuídos no pensamento
popular. Consegue os dados através de entrevistas de “história de vida” e as
relaciona com outros documentos, de caráter oficial, tendo o objetivo de
“mergulhar nas histórias construídas em torno de acontecimentos que têm como
palco Pernambuco/Recife, primordialmente, mas que, inexoravelmente e das formas
mais diversas, estão relacionados, associados ao que se passa no Brasil e no resto
do mundo” (MONTENEGRO, 2013, p.23). Dessa forma, o autor está atento ao jogo
com as escalas, do local ao nacional e Internacional, mas não se restringe a
isso. A História produzida, nos coloca diante de uma construção a contrapelo,
pois o que antes se produzia sem a devida contribuição popular, no livro, essa
contribuição dá o tom de uma História que trabalha as pessoas que tiveram suas
vozes silenciadas pela concepção de produção do conhecimento histórico.
O
tempo, um aspecto muito importante no livro, não é tratado como fez por muito
tempo a história positivista com as sucessões políticas. Ele é encarado como o
tempo do vivido e, nesta ideia, o homem – comum – é tido como agente
transformador, na medida em que suas histórias se entrelaçam na teia que dá
sentido às várias abstrações da História (MONTENEGRO, 2013).
O
capítulo três, da referida obra, nos apresenta de forma mais precisa a
abordagem da história local. Neste capítulo, intitulado: “Batalhas em Casa
Amarela”, Montenegro, primeiramente, circunscreve e nos explica o espaço de
análise, “O bairro de Casa Amarela, situado a seis quilômetros a noroeste do
centro do Recife” (MONTENEGRO, 2013, p.52). Logo em seguida, vai nos conduzindo
numa narrativa que mais parece uma batalha, pois os seguimentos populares
disputam ferozmente o direito à terra, a moradia em Casa Amarela, enquanto que,
por outro lado, os detentores do poder e as imobiliárias procuram, de maneira
impiedosa, expulsar os moradores do bairro. Vale ressaltar que ler este
trabalho permite perceber como acontece a construção da história local, e como
esses documentos vão se constituindo em uma narrativa reveladora. Ao final da
trama, graças ao movimento de combate às empreiteiras sob o nome “Terras de
Ninguém” e pela formação de uma história popular, a comunidade consegue o
direito as terras de Casa Amarela (MONTENEGRO, 2013).
Ao
explanar como foi a composição do estudo realizado pelo professor Antônio
Torres Montenegro, se teve o intuito de mostrar que nesta perspectiva, não se
propõe uma história local aos moldes da historiografia tradicional e
eurocêntrica, que se apresenta de forma linear ou que defenda a ideia de
evolução na História. Ao contrário, no texto vemos a possibilidade de uma
prática relacional entre contextos diferentes, a diversidade de ideias que
circulava na localidade, e os diversos sujeitos que surgem, como protagonistas.
Assim,
a história local tem se transformado, ficado heterogênea, abarcado o cotidiano
e visitado memórias, privilegiando novos objetos e sujeitos, envolvendo
variados espaços e territórios, com temporalidades as mais diversas, tendo o
objetivo de poder elaborar um saber de relevância para os anseios
contemporâneos. Como no dizer de Samuel (1990):
A história local requer um tipo de
conhecimento diferente daquele produzido no alto nível de conhecimento nacional
e dá ao pesquisador uma ideia muito mais imediata do passado. Ele a encontra
dobrando a esquina e descendo a rua. Ele pode ouvir seus ecos no mercado, ler
seu grafite nas paredes, seguir suas pegadas nos campos (SAMUEL, 1990, p. 220).
Foi
com essa perspectiva de “nova” história local que procuramos conduzir os alunos
a um trabalho educativo a partir do PIBID de História da UFPE. O importante
consiste em puder ajudar o aluno a sentir a história no limite do que ela tem
de concretude.
História
local e ensino de história
É
importante ressaltar que durante muito tempo o ensino de história não deu
relevo as vivências dos estudantes e, muito menos, promoveu a valorização de
outros sujeitos nas construções das histórias e isso, certamente, configurou um
dos reforços – que permeiam a História do ensino de história – de que a
disciplina é algo demasiadamente abstrato e, porque não, sem valor para a vida
prática dos educandos. Uma narrativa linear de fatos seletos, marcada por
personagens (heróis) e acontecimentos simbólicos, com causa e consequência e
sem relações de utilidade na vida cotidiana dos alunos, foi o que predominou
nas aulas de História, como ratifica Laville (1999).
A
história local tem se mostrado necessária por oferecer esse contraponto, por
viabilizar o entendimento do entorno do discente e por articular o passado e o
presente nos vários espaços onde esse indivíduo frequenta, como por exemplo,
escola, casa, cidade, trabalho e etc., e por situá-lo nas problemáticas do
momento.
Concatenando
com os propósitos da história local na contemporaneidade, observa-se que na
proximidade, na vivência cotidiana e nos espaços onde o sujeito tem, no mínimo,
uma leve identificação com o lugar, se torna mais aprazível fazer relações, ou
seja, partindo de um aporte entre o que se vive, instiga-se o intervir e,
assim, a ações de maneira mais espontâneas que vão sendo amadurecidas ao longo
do tempo – pensamento crítico.
No
ensino de história, como nos lembra Schmidt (2007, p. 189), a história local
foi tomada “como um dos eixos temáticos dos conteúdos de todas as séries
iniciais da escola fundamental e como perspectiva metodológica em todas as
séries da escola básica”. Ou seja, há um certo consenso em torno da importância
dessa metodologia aplicada ao ensino. Uma das principais justificativas para
isto, é por ela – a história local e outras metodologias – instigar o olhar
indagador e assim fazer os alunos questionadores do mundo do qual fazem parte.
Mas
não são apenas essas as contribuições da história local ao ensino de história.
Trabalhos com abordagens e fontes diversas (como o recurso ao relato oral, ou a
documentos como jornais e fotografias) e de forma investigativa, tem feito
alunos se interessarem por discussões acerca do patrimônio de sua localidade,
levantamento de dados e construções das histórias locais, além de despertarem o
olhar para a compreensão de ser, o lugar onde vivem, diretamente articulado com
outros espaços. Um componente proveitoso deste estudo é, além dos já citados, a
possibilidade de reconfigurar os conteúdos tradicionais, pois o objetivo da
história local não é elimina-los – como alguns estudos alertam –, mas
significa-los, aborda-los de uma forma diferente.
Ressaltar
esses aspectos é crucial, pois a história local é constituída devido a
interligações com outros métodos, como por exemplo, a história oral e, por si
só, não constrói a História. Como salienta Samuel (1990, p. 237-239): “A
História Local não se escreve por si mesma, mas como qualquer outro tipo de
projeto histórico, depende da natureza da evidência e do modo como é lida”. Nos
projetos pedagógicos isto deve ficar bem claro, pois uma história local,
exclusivamente circunscrita a um espaço geográfico específico, fechada em sua
abordagem, pode recair no já discutido localismo – que fragmenta a compreensão
dos processos históricos mais amplos.
O
saber escolar, com base na história local, deve permitir ao estudante as
conexões entre o local, regional, nacional e mundial através do tempo. Entender
os processos como dimensão da experiência humana fazendo surgir
problematizações a respeito do espaço, do tempo e da sociedade e, desse modo,
possibilita repensar a História em sala de aula, suprindo algumas barreiras de
compreensão por parte do alunado (RÜSEN, 2001).
Schmidt
(2005) ao pensar a necessidade da tomada de consciência histórica, por parte
dos alunos, para que esses possam problematizar suas próprias condições no
mundo, vai nos mostrar, – refletindo a partir de Rüsen que:
[...] a consciência histórica
relaciona “ser” (identidade) e “dever” (ação) em uma narrativa significativa
que toma os acontecimentos do passado com o objetivo de dar identidade aos
sujeitos a partir de suas experiências individuais e coletivas e de tornar
inteligível o seu presente, conferindo expectativa futura a essa atividade
atual (SCHMIDT, 2005, p. 301).
Ou seja, a história local é apontada como uma forma de
fazer o ensino de história se tornar algo mais inteligível ao estudante,
facilitando a intervenção do sujeito nos espaços locais, amadurecendo suas
perspectivas de reflexão sobre os espaços mais amplos. Assim, é necessário que
a escola perceba os conhecimentos levados pelos jovens estudantes que estão
imersos em uma cultura do consumo. E é imprescindível a percepção dos alunos
para a pujança da história local, como também do reconhecimento de diversas
identidades culturais existentes na localidade e, uma vez os discentes
aproximados dos aspectos da localidade podem criar empatia e respeito por esse
espaço (GUILLEN, 2016, no prelo).
História local e
aprendizagens – à guisa de conclusão
Em meio a tanta turbulência que
perpassa o ensino, em um momento nada tranquilo da sociedade brasileira,
trabalhar a história local parece um desafio pertinente e, dependendo da
perspectiva colocada sobre essa metodologia, as possibilidades ao trabalho do
professor se ramificam. As discussões e os interesses entorno do ensino de
história se revelam nos currículos, a exemplo disso, são os desencontros sobre
a Base Nacional Curricular Comum - BNCC. É importante ressaltar nesse contexto,
as possibilidades que possam ser implementadas a partir de questões que se
provem significativas, para não voltarmos a cometer as gafes de um ensino
descontextualizado.
Bom...
O essencial desse trabalho foi ver que ao ser desenhado, ele foi pensado para
atender as pessoas da localidade em que o PIBID estava inserido. Eventos como o
‘Ocupe a Torre’ (citado na introdução), sites onde se disponibilizou a produção
e o levantamento de material sobre a história do bairro de Jardim São Paulo
(bairro também envolvido no projeto)[6], acervo de história oral
sobre os bairros do Recife[7] e outras ações, fizeram
com que o cenário de pouco conhecimento do local onde vivem os alunos fosse
modificado e as concepções que tinham passassem a ser questionadas. Uma aluna
por exemplo nos disse:
Sabia, mas muito por
cima... por que a gente sempre acha que a História é algo muito distante. Ou em
relação a tempo, ou em relação a espaço mesmo. Então o PIBID ta mostrando que
não. A História ta em todos os cantos e muito mais perto do que a gente acha.
(Kelly Santos, aluna do 1° ano do Ensino Médio da Escola Estadual de Paulista).
A partir do levantamento documental feito
em cada bairro onde o PIBID de História atuou foi ainda possível aplicação de
aulas sobre temas presentes nos livros didáticos, a partir, é claro, de outro
viés que não os factuais e distantes das vivências dos alunos. Os planos de
aula, por sua vez, possibilitaram no fazer docente uma preocupação e
engajamento no modo da condução dos conteúdos.
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CORRÊA, Anderson Romário Pereira.
História Local e Micro-História: encontros e desencontros. Revista do Instituto
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EAGLETON, Terry. Depois
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pós-modernismo. 5. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2016. 301 p.
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recentes do conceito de lugar e sua importância para o mundo
contemporâneo. Revista Território, Rio de Janeiro, v. 1, n.
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MELO, Vilma Lurdes
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Contribuições para Pensar, Fazer e Ensinar. 1. Ed. João Pessoa: Editora da
UFPB, 2015 254 p.
MONTENEGRO,
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cultura popular revisitada. 6. ed. São Paulo: Contexto, 2013. 153 p.
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Lucena. “Estágio: diferentes concepções”. In: Estágio e Docência. 5ª ed.
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didática aplicada. Coimbra: Livros Horizonte. 1990.
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(Org.). Ensino de História: sujeitos, saberes e práticas.
1ªed.Rio de Janeiro: Mauad X; FAPERJ, 2007, v.1, p.187-198.
[1] Graduado em História pela
Universidade Federal de Pernambuco.
[2] Professora do Departamento de
História da UFPE, coordenadora local do Mestrado Profissional em Ensino de
História (PROFHISTÓRIA) e do PIBID.
[3] O Ocupe Estelita é um movimento
social que visa impedir a demolição dos armazéns e parque ferroviário das Cinco
Pontas, para a construção de grandes edifícios (torres) na região do Cais
Estelita, Recife. É um movimento que discute não apenas o patrimônio cultural
da cidade, mas as formas de se viver na cidade. Ver: https://direitosurbanos.wordpress.com/ocupeestelita-0/ocupeestelita/.
Acesso em 25.10.2016.
[4] A primeira ideia de batalha
entorno da construção da História surgiu com Lucien Frebvre no livro “Combates
pela História” onde advoga uma nova forma, mais ampla, mais plural à época
visando a construção de uma outra produção da História.
[5] O localismo manifesta-se como uma
visão limitada do local, várias vezes de caráter bairrista, que só leva em
consideração o local em si. Tem, não raro, um conteúdo discriminatório. Chega a
negar outros espaços geográficos e fragmentar o local como se fosse um elo
perdido no espaço sem conexões com outras situações.
[6] Visite a página do site através do
endereço que segue
http://historiajsprecife.wixsite.com/jsprecife/equipe-de-pesquisa. Nele você
vai ver a pesquisa, o levantamento documental e alguns artigos produzidos para
apresentar dados parciais de nossas ações, além de alguns trabalhos
desenvolvidos com os alunos da escola básica.
[7] Laboratório de História Oral e da
Imagem da UFPE. Lá você pode consultar as entrevistas feitas com moradores dos
bairros envolvidos no projeto PIBID de História.
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