Para o Dia da Consciência Negra (20 de novembros), planejamos uma série de atividades, principalmente debates e discussões sobre o racismo e a violência racial ainda existente no Brasil. Como estratégia de discussão e trabalho, planejamos trabalhar com os documentos existentes no acervo documental do Movimento Negro Unificado de Pernambuco, e que estão digitalizados no Laboratório de História Oral e da Imagem da UFPE (LAHOI). Escolhemos para trabalhar com alunos exemplares de jornais editados e publicados por movimentos negros não apenas de Pernambuco, mas de outros Estados, nos quais diversos assuntos que ajudam a compreender a história da África e da Cultura Negra no Brasil, bem como problematizam questões históricas vividas por negros e negras no Brasil desde o momento imediato do pós-abolição, como a violência policial, o racismo, dentre outras questões.
Além da documentação (jornais), organizamos uma pequena exposição, constituída de seis banners, nos quais mostramos a discussão travada pelos movimentos negros nessa documentação acerca da própria história do 20 de novembro e da luta por reconhecer Zumbi como herói nacional, a história do MNU em Pernambuco, além do combate ao racismo e à violência policial.
Abaixe os documentos aqui.
O MOVIMENTO NEGRO UNIFICADO (MNU) EM PERNAMBUCO
ESTRATÉGIAS DE LUTA E RESISTÊNCIA
O projeto
trabalha com o acervo documental do Movimento Negro Unificado em Pernambuco,
situado na Casa da Cultura, e tem por objetivo discutir as estratégias de luta
e resistência levadas a efeito pelo movimento no combate ao racismo e à
discriminação racial, bem como outras estratégias que discutem a violência
policial que atinge principalmente os jovens negros, o desemprego, questões
relacionadas à situação da mulher negra e outras. Como estratégias de
reconhecimento do movimento apontamos a luta para que o dia 20 de novembro, dia
da morte de Zumbi, fosse reconhecido como dia nacional da consciência negra.
O acervo do
MNU-PE é constituído por uma grande variedade de documentos, dentre os quais se
destacam jornais, boletins, folhetos e panfletos das diversas atividades
desenvolvidas ao longo dos seus 25 anos de luta e resistência, e que aqui estão
presentes dando uma amostra de sua riqueza e importância.
ZUMBI – HERÓI DA RESISTÊNCIA
NEGRA
A figura de Zumbi foi eleita
como símbolo da luta e resistência dos negros escravizados e dos movimentos
negros no Brasil no final da década de 1970, em meio a estudos históricos que
ressignificaram a luta quilombola e ao surgimento dos movimentos negros pelo
Brasil afora. Zumbi significa o herói da
resistência negra e da luta por direitos. O 20 de novembro foi proposto como Dia da Consciência Negra para lembrar a todos a luta dos negros e
negras na conquista de direitos e no combate ao racismo e à discriminação
racial.
DIA NACIONAL DA CONSCIÊNCIA
NEGRA
Em 20 de novembro celebra-se O Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, tornado feriado nacional
oficialmente pela lei nº 12.519, de 10 de novembro de 2011. Nesse dia, em 1695, Zumbi, o então líder do Quilombo dos Palmares – situado entre os estados de Alagoas e Pernambuco, na região
Nordeste do Brasil, foi morto por bandeirantes que lutaram para destruir o
quilombo.
A ideia de lembrar a morte de
Zumbi como um dia de luta e de conscientização foi proposta por Oliveira
Silveira, poeta gaúcho, em 1971, juntamente com outros militantes do grupo
Palmares. Para estes, não havia sentido em se comemorar o 13 de maio, uma vez
que a Abolição da escravidão não tinha significado o fim da opressão, do
racismo e da marginalização do negro. Era preciso um dia para unificar as lutas
e fortalecer a identidade negra. Esse dia, o 20 de novembro, tornou-se bandeira
de luta dos movimentos negros por todo o Brasil até sua oficialização em 2011.
As lutas do Movimento Negro Unificado em
Pernambuco
Combate
ao racismo
O
Movimento Negro Unificado (MNU) historicamente pauta sua militância no combate
ao racismo, entendendo este como o problema central da situação precária a que
a população negra é exposta no Brasil. Assim, a luta contra o racismo pautou o
Movimento Negro Unificado em toda sua existência e está presente em toda a
documentação de seu acervo nas mais diversas formas, desde notícias de jornais
a panfletos e campanhas nacionais.
Violência
policial
A
violência policial é um problema muito discutido na atualidade, mas não é um
tema recente no Movimento Negro! Ao contrário, está presente em todas as
discussões do MNU e transparece na documentação, principalmente nas denúncias
publicadas nos jornais. Mas também foi alvo de repetidas campanhas nacionais,
denunciando a violência policial e a impunidade.
Movimento Negro Unificado (MNU)
Formado em 1978, na cidade de São Paulo, em um período marcado pelo
ressurgimento dos movimentos sociais, o MNU surge com objetivo de combater o
racismo e o mito da democracia racial, a perseguição policial, ataques
racistas, desemprego da população negra, entre outros problemas enfrentados
pelos afrodescendentes, e que fizeram com que ocorresse a realização de um Ato
Público, no dia 7 de julho de 1978, nas escadarias do Teatro Municipal de São
Paulo. Gradativamente discute-se a transformação do dia 20 de novembro, dia da
morte de Zumbi, em Dia Nacional da Consciência Negra, combatendo assim, a imagem
de passividade do negro, representada pelo dia 13 de maio, Dia da Abolição da
Escravatura.
Em Pernambuco
A Frente Negra, fundada no ano de 1934, pode ser considerada precursora
dos movimentos negros no Brasil. No Recife, Solado Trindade foi um de seus
fundadores, iniciando o debate acerca do lugar que os negros ocupavam na
sociedade. Solano Trindade, poeta negro pernambucano, que participou de
diversas entidades e eventos dos Movimentos Negros pelo Brasil, criou, com
Abdias do Nascimento, o Teatro Experimental do Negro, além de suas obras
literárias.
O Centro de Cultura Afro-brasileira (CCAB) que, assim como a FN, foi
fundado por José Vicente Lima, um importante militante do movimento negro
pernambucano. O CCAB tinha o objetivo de valorizar e promover a cultura negra.
Outra organização importante foi o Centro de Cultura e Emancipação da
Raça Negra (CECERNE), que surgiu em 1980, mas que teve vida breve.
O Movimento Negro do Recife (MNR) também teve vida curta e
posteriormente, em 1982, aderiu ao Movimento Negro Unificado nacional, com o
objetivo de ampliar suas atividades, transformando-se no Movimento Negro
Unificado em Pernambuco (MNU-PE). Acerca dessa transição Inaldete Pinheiro, importante
militante desse período, afirma que foi um processo carregado de muitas
discussões. Mas para Marcos Pereira, outro militante que também participou
desse processo, foi uma decisão “natural” a ser tomada e que contou com apoio
de vários militantes, pois “a luta não poderia se travar isoladamente”
MILITANTES
Inaldete Pinheiro nasceu no
ano de 1946 na cidade de Parnamirim, no Rio Grande do Norte. Chegou em Recife
no fim da década de 1960, com o objetivo de fazer faculdade de enfermagem e
acabou sendo uma das primeiras mulheres a lutar pelo desenvolvimento dos Movimentos
Negros na cidade, juntamente com Sylvio Ferreira e Irene Souza. Estas pessoas foram
fundamentais para a construção do Centro de Cultura e Emancipação da Raça Negra
(CECERNE) e do Movimento Negro do Recife (MNR), que depois aderiu ao Movimento
Negro Unificado (MNU).
Inaldete
Pinheiro participou ativamente de diversas atividades relacionadas aos
Movimentos Negros no estado, como a organização do primeiro Encontro de Negros
do Norte e Nordeste, em 1971, além da participação em maracatus, como o
Maracatu Nação Leão Coroado. Vale salientar que Inaldete foi uma figura
essencial para a realização das principais mudanças tomadas pelo que seria,
posteriormente, o MNU em Pernambuco, para a divulgação desses movimentos e de
figuras como a de Solano Trindade. Inaldete também tem vários livros infantis
publicados, que tratam da cultura afrodescendente.
Marcos
Pereira
Marcos Antônio Pereira da Silva nasceu no bairro de Afogados, na cidade
de Recife, em 1958. Começou a
participar na luta pelos Movimentos Negros em 1978, quando conheceu o Centro de
Cultura e Emancipação da Raça Negra (CECERNE), e depois participou do Movimento
Negro do Recife (MNR).
Durante este período e, posteriormente, com a transformação do MNR em
MNU-PE, Marcos Pereira foi um militante ativo, trabalhando em palestras e
festas, para a arrecadação de dinheiro para o desenvolvimento de projetos. Como
exemplo, é possível citar a Noite do
Cafuné, que aconteceu na década de 1980 durante a Semana da Consciência
Negra, que contava com a participação de grupos de maracatus, afoxé e samba
reggae.
Martha Rosa Figueira Queiroz
Martha Rosa Figueira Queiroz é uma
historiadora e professora de História da Universidade Federal do Recôncavo da
Bahia. Entre os vários temas que estuda, se encontram os Movimentos Negros.
Além de pesquisar sobre esse tema, Queiroz atuou como militante, durante anos,
no MNU-PE, tendo sido coordenadora municipal e coordenadora do GT de Cultura da
entidade, e no Afoxé Alafin Oyó, em que foi diretora, além de desenvolver o boletim
oficial do grupo, Negração.
Com a relação próxima entre MNU-PE e
Alafin Oyó, Martha Rosa foi uma militante que defendeu dentro do movimento, e
em seus trabalhos, a proposta de articulação entre cultura e política dos
Movimentos Negros no país. Entre as suas principais atividades é possível ressaltar
sua presença em congressos e encontros do MNU, seu trabalho como coordenadora
municipal e coordenadora do Grupo de Trabalho de Cultura do MNU-PE, e a
fundação do núcleo de base, da cidade de Paulista, denominado Núcleo Malcolm X,
que era ligado ao GT Cultura. Esses núcleos tinham o objetivo de trabalhar
diretamente com a comunidade, mostrando as ideias e propostas do MNU-PE.
Destacam-se também as suas atividades com o Maracatu Nação Leão Coroado, durante
o período em que o MNU-PE atuou com projetos para o fortalecimento deste grupo,
desfilando e tocando alfaia no maracatu.
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