quinta-feira, 31 de agosto de 2017

A encenação como ferramenta pedagógica: a EREM Trajano de Mendonça e a estética do Teatro do Oprimido

No dia 29 de agosto, o Pibid de História da UFPE desenvolveu atividades no EREM Professor Trajano de Mendonça, em Jardim São Paulo, utilizando a prática teatral como instrumento do ensino de História. A aula intitulada "A estética do Teatro do Oprimido desconstruindo o "Ciclo do Ouro" no Brasil" vivenciou a técnica "Teatro-Imagem" com os 2º anos A e B da escola.
"Espectador, que palavra feia!" (BOALl, 1991) o Teatro do Oprimido permite que atores e não-atores tenham a vivência teatral e utilizem o teatro como meio de transformação. O "espectador", o "sujeito passivo", assume papel protagônico, ensaiando para ação real e também conseguindo atribuir significados ao grupo social do qual faz parte.
A poética do Oprimido (1997) nos permite aproximar aqueles que não se enxergam como sujeitos ativos do teatro (e do mundo) a fazerem parte do jogo (e também da vida).
Alunos participam da dinâmica e se divertem.

Com a preocupação de tornar visível o pensamento dos alunos e alunas, escolhemos o "teatro-imagem", que tem como objetivo ajudar os participantes do jogo a pensarem com imagens e debater um problema sem o uso das palavras, usando apenas seus próprios corpos (BOAL,1997).

Antes da aplicação do plano, fizemos uma avaliação inicial para tomarmos conhecimento de qual era a relação dos alunos e alunas com o teatro. E como resultado foi possível perceber que a ida ao teatro não fazia parte das práticas realizadas pela maioria dos estudantes e que eles sequer tinham acesso às informações sobre as práticas culturais do Recife e Região Metropolitana. Neste sentido, indicamos para eles e elas sites e páginas nas redes sociais através das quais eles poderiam obter informações a respeito das peças que estão em cartaz no Recife.
O plano de aula foi pensado para que o conteúdo estudado anteriormente pelos estudantes fosse revisado e também rediscutido através da prática e do exercício do jogo cênico. Para isso, tivemos como ambiente o auditório da escola, nele formamos um círculo com os estudantes para iniciar o aquecimento, que por sua vez tinha como objetivo que os alunos iniciassem um processo de tomada de consciência dos próprios corpos, além de é claro, coloca-los na aula. O aquecimento contou com dois momentos que merecem atenção, primeiramente os estudantes deveriam caminhar pelo auditório e sempre que cruzassem com um colega, desejar-lhe "boa tarde". Esta foi uma proposta que nos deu retorno na medida em que permite aos estudantes estabelecer uma interação que muitas vezes é deixada de lado no dia a dia e deslocar seu olhar. Como colocou uma das alunas, por mais que convivam diariamente é raro que se cumprimentem. Em segundo lugar introduzimos alguns comandos. Quando ouvissem o termo "congela" deveriam parar como estivessem e fazer uma estátua nos "planos baixo, médio ou alto", conforme indicado por nós.
Alunos representando peça teatral.

Após esse aquecimento, partimos para um exercício em dupla: "o espelho". Sem falar, um deveria ser o reflexo do outro, buscando fazer exatamente os movimentos que seu parceiro ou parceira fazia. Buscamos a coletividade em todos os momentos e o perceber o outro. Os jogos, por sua vez, nos permitem aguçar a expressividade do corpo e nos dá consciência de que ele é também emissor e receptor de mensagens.
E assim, chegou a hora de associar o jogo ao estudo de História. Através do teatro-imagem, que conta com um jogo cênico chamado "escultor". Pedimos para que os estudantes se dividissem em dois grandes grupos e a estes que se subdividissem em mais dois (A e B). Para que assim, pudéssemos fazer com que A esculpisse os corpos dos integrantes do grupo B como se estes fossem estátuas e vice-versa.
Sorteamos temas que estavam inseridos dentro da temática do “Ciclo do ouro”, como escravização, inconfidência mineira, além de personagens como indígenas, bandeirantes, senhores de engenho e a coroa portuguesa, para que o grupo escultor pudesse expressar sua opinião através do que esculpisse no grupo esculpido, estabelecendo uma representação física do tema. Cada detalhe pode e deve ser levado em conta na hora de esculpir, a expressão facial, a posição das pernas, dos braços, etc.
A atividade foi marcada pela interação entre bolsistas e alunos.

A conclusão do trabalho foi feita através da projeção no datashow das imagens que eles haviam esculpido para que toda a turma pudesse visualizar, seguida da discussão feita a partir destas imagens que exprimiram versões muito específicas da História como, por exemplo, quando um dos grupos esculpiu os bandeirantes enquanto heróis, mas em outra turma são colocados como pessoas violentas. ou quando outro grupo colocou os indígenas enquanto guerreiros, enquanto os negros escravizados foram retratados quase todos amarrados e sem defender-se. Durante o debate, além de buscarmos conversar a respeito deste tradicional maniqueísmo estabelecido nas relações históricas, tentando chamar-lhes atenção para outro olhar, claro que sem diminuir o sofrimento pelo qual os negros e os indígenas passaram durante o período do “Ciclo do ouro”. Além de tentar desfazer esta ideia de heróis e vilões, tentamos também fazer-lhes perceber que haviam outros meios possíveis de retratar os temas que propuseram, como exemplo podemos citar o caso dos negros escravizados que poderiam ter sido retratados num momento de resistência ou num quilombo.

A experiência foi gratificante em mão dupla, isto é, para nós, que pudemos nos regozijar com os argumentos apresentados durante o debate e durante a explicação das propostas das esculturas. E para os estudantes que puderam vivenciar um meio novo de aprender História, saindo da rotina da sala de aula com cadeiras para permanecer sentados e quadro branco.

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