sexta-feira, 24 de novembro de 2017

"Ancestralidade e Resistência" na Semana da Consciência Negra da EREM Trajano de Mendonça

                               

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Nesta última terça-feira (21 de novembro), a Equipe da EREM Trajano de Mendonça do PIBID-HISTÓRIA-UFPE fez uma intervenção na Semana da Consciência Negra, organizada pela própria Escola. Durante os cinco dias de atividades, houve espaços de declamação de poesia, apresentação de peças teatrais - construídas e encenadas pelos próprios alunos(as) - e apresentações musicais. 

A intervenção proposta pelo PIBID teve como eixo temático "Ancestralidade e Resistência". O objetivo do trabalho era o debate em torno da memória, o protagonismo de negros e negras em suas mais diversas ocupações e espaços de luta, proporcionando, assim, um espaço para se pensar em referenciais negros(as) no passado e no presente.

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Intervenção "Ancestralidade e Resistência" - 2º Ano A

Duas semanas antes da data citada anteriormente, elaboramos um questionário com 6 perguntas (por exemplo: Quem é você? Qual sua identidade racial? Você consegue apontar alguns traços culturais, comportamentais ou físico que herdou de, ao menos, duas pessoas de sua família? Você já sofreu racismo ou presenciou um ato racista? Como você se sentiu?).

A ficha de perguntas, além de fazer uma avaliação inicial dos nossos alunos(as) dos 2º anos A e B, serviu também como uma motivação inicial: no papel, um tópico solicitava que eles(as) levassem, no dia da atividade, um objeto simbólico (algo que tivesse uma história significativa para eles, ou que lembrasse de alguém, etc). A intenção do grupo era promover, através do eixo pessoal e familiar, no primeiro momento, discussões sobre a memória e a relação com a família, ou com pessoas que representassem ou fossem inspiração para eles.


Segundo Maria Deíse Cardoso (UESPI) e Lucélia  Almeida (UESPI), no artigo "Verso e Conversa: Elos de Memória na Poesia de Solano Trindade", "Os primeiros laços da memória coletiva são criados dentro da família, que é o primeiro grupo, independentemente de sua configuração, (...) que revelam o lado social a qual o ser humano sempre fará parte.". 

Perguntamos quais as dificuldades deles em torno do questionário e, em ambas as salas, uma quantidade significativa afirmou que ainda não conseguem definir sua identidade racial ou se diz "pardo" porque terceiros legitimam ou deslegitimam quando eles se autodeclaram negros(as). 

Através da "Caixa das Memórias", o debate em torno dos objetos e das histórias contadas por eles sobre suas vidas, viabilizando também a reflexão sobre a importância da memória e como ela pode estar relacionada à construção da identidade. Dessa forma, trazendo do plano individual para o coletivo, introduzimos sobre a temática negra.

Questionamos os alunos e alunas se eles achavam que os negros e negras criaram uma memória e qual memória eles tinham desses agentes sociais. Entre respostas de "escravidão", "resistência", "luta", muitos deles(as) apontaram como o passado histórico desse grupo era importante para também lutar nos dias de hoje, pontuando diversas situações de racismo que presenciaram ou passaram. 

Com isso, introduzimos a questão da "Ancestralidade", usando como referência a Profª Drª Isabel Guillen, no artigo "Ancestralidade e oralidade nos movimentos negros de Pernambuco", onde a pesquisadora aponta sobre como personagens históricos do passado (ancestrais) tem grande força na atualidade, de forma que estes dão "ânimo à luta" e tornam-se referências para as dificuldades do cotidiano. Ou seja, as pessoas ancestrais estão relacionadas a pessoas a se espelhar, pessoas que são referência para combater o racismo.

Sendo assim, levamos uma série de personagens da História que resistiram e são pessoas, ainda que muitas não conhecidas por eles, tiveram uma contribuição muito importante na luta pelas direitos civis dos negros e negras, na luta contra a opressão e contra a diferença racial. Nomes como Ângela Davis (Panteras Negras), Zumbi dos Palmares (Líder Quilombola), Solano Trindade (Poeta Pernambucano), Martin Luther King (Líder Político), Dona Santa (Grande nome do Maracatu Pernambucano), entre outros grandes nomes da História.  

Um vídeo (disponibilizado pela página do Facebook "Quebrando o Tabu") de um discurso de Martin Luther King, com imagens da atualidade, foi utilizado em sala de aula, para inspirá-los.






Em seguida, propomos a reflexão: "Porque falamos dos negros de maneira tão distante? Qual a nossa dificuldade em nos reconhecermos parte desse grupo, de nos autodeclararmos negros?". A partir desse momento, debatemos o "Mito da Democracia Racial no Brasil" e dentro das próprias falas dos alunos(as) isso era colocado como ponto de uma crise de identidade racial e o questionamento: somos uma miscigenação, mas, porque ainda existe racismo no Brasil?

Levamos, então, inúmeras pessoas que estão resistindo atualmente no Brasil, com seus discursos, posicionamentos ou, simplesmente, por ocupar cargos onde, até então, eram invisibilizados(as), como Lázaro Ramos (Ator), Taís Araújo (Atriz), Liniker (Cantora trans), Djamila Ribeiro (Filosofa), Elza Soares (Cantora), Rafaela Silva (Judoca - Medalha Olímpica no Rio 2016), entre outros(as).

Nossa avaliação foi uma atividade chamada "Árvore da Negritude", fazendo referência à árvore genealógica com a temática negra. Nesta árvore, os alunos(as) deveriam desenhá-la e escrever o nome de pessoas negras que são referência para elas e apontar uma característica dessa pessoa que fosse inspiradora ou que a motivasse de alguma forma, podendo ser desde pessoas da família, até mesmo professores(as), colegas de sala ou grandes nomes famosos da História. 

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                                      Realização da atividade "Árvore da Negritude" - 2º A


"Árvore da Negritude" - 2º ano B


"Árvore da Negritude" - 2º Ano B


Se, a consciência está relacionada com a expansão da mente, que a Consciência Negra seja para recontarmos a História, repensarmos em nossos privilégios, "enegrecermos" e lutarmos por uma realidade diferente, mais justa. Como disse Martin Luther King: "que de cada encosta, a liberdade ressoe."

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARDOSO, Maria Daíse de Oliveira. ALMEIDA, Lucélia de Souza. Verso e Conversa: elos de memória na poesia de Solano Trindade. Encontro de História Oral. 2014 (Disponível em: http://www.encontro2014.historiaoral.org.br/resources/anais/8/1398876228_ARQUIVO_Versoeconversapublicar.pdf)
GUILLEN, Isabel Cristina Martins. "Ancestralidade e oralidade nos movimentos negros de Pernambuco". 2013. XXVII Simpósio Nacional de História.
(Disponível em: http://www.snh2013.anpuh.org/resources/anais/27/1364666404_ARQUIVO_Ancestralidadeeoralidadeanpuh.pdf)



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