terça-feira, 28 de novembro de 2017

O Samba de Enredo e o Ensino de História

Resumo Expandido enviado pelos bolsistas Talysson Verçosa e Hélder Freitas, da Equipe Oswaldo Lima Filho, para o 1º Seminário estadual do PIBID e PIBID diversidade do estado de Pernambuco – Recife, 16 e 17 de Novembro.

O SAMBA DE ENREDO E O ENSINO DE HISTÓRIA - REPRESENTAÇÕES FEMININAS NAS CORTES AFRICANAS DA ANTIGUIDADE

Hélder Douglas Ferreira Freitas
Roberto José Moura
Talysson Caíque Santos Verçosa
helder.1689.doug@gmail.com
betobessone@gmail.com
vercosat@gmail.com
PIBID História UFPE – Escola Oswaldo Lima Filho 

RESUMO: Este trabalho discute a execução de uma sequência didática de história antiga para uma turma de 6º ano do ensino II, no segundo bimestre de 2017, cujos objetos de ensino foram os reinos africanos (Cuxe, Meroé, Axum e Egito). Tendo em vista a necessidade de incluir positivamente as temáticas de gênero nos conteúdos escolares, bem como a nossa convicção de que é possível promover, alegre e significativamente, as aprendizagens em história, mobilizamos como recurso didático o samba enredo do Grêmio Recreativo Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro de 2007: "Candaces". Promovemos, além disso, uma aproximação dos estudantes com a estética e a musicalidade africana, afro-brasileira e negra.

Palavras-Chave: África; Candaces; Samba de enredo.

INTRODUÇÃO: A sala de aula está em constante transformação para tornar os processos de ensino-aprendizagem mais dinâmicos e significativos para a realidade dos estudantes. A incorporação da linguagem musical ao ensino de História, por exemplo, em um país rico em cultura como o Brasil, reclama uma percepção mais consciente da canção popular como recurso didático que sugere uma prática ativa, criativa e integradora. Ora, se a concepção de História como processo reclama uma concepção dinâmica, a prática em sala também. Nesse sentido, o samba se mostra como ótimo recurso no trabalho de conteúdos programáticos como História da África. 
Para as turmas de 6º ano do ensino fundamental, a temática africana surge em dois momentos: a sociedade egípcia e os impérios de Cuxe e Meroé. Visando levar os alunos a uma visita positiva à África, escolhemos estudar alguns de seus reinos e impérios através da história de algumas figuras femininas. Ousamos nos aproximar de uma parte da história do continente africano através de um diálogo entre a historiografia e a proposta do samba-enredo escolhido (importante produto cultural da sociedade brasileira) sobre as possibilidades do "ser mulher" na antiguidade. O samba de enredo da Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro, Candaces, à vista do exposto, permitiu esse exercício através de uma contextualização histórica de rainhas-mães, mulheres guerreiras e governantes de impérios no berço da humanidade.

OBJETIVOS: Analisar a execução das aulas sobre a representatividade da figura feminina na realeza africana, identificando a questão das “funções” das mulheres na antiguidade, a partir da leitura e interpretação do samba de enredo “Candaces”. 

REFERENCIAL TEÓRICO: Dialogamos com textos referentes à relação entre música e ensino de história (DAVID, 2006) representado pelo samba do Salgueiro (2007), a coleção da UNESCO sobre História Geral da África, procuramos uma abordagem de um método didático necessário para fazer o aluno ler criticamente a prática social na qual vive (WACHOWICZ, 1995), e, por fim, o livro “África na sala de aula” da autora Leila Hernandez (2005). Nesse sentido, reafirmamos aqui o nosso dever, como professores, com a Lei 10.639/03, que torna obrigatório o ensino de História da África e Afro-brasileira, medida significativa para se pensar um ensino de história que leve à reflexão crítica desse continente repleto de história, cultura e ressignificações.

PERÍODO DE REALIZAÇÃO: O planejamento das aulas ocorreu entre os dias 24 de julho e 4 de agosto de 2017, para posterior execução entre, 7 e 10 de agosto de 2017. 

METODOLOGIA: O plano de aula sobre Candaces foi planejado para 100 minutos. Procuramos embasamento em autores que trabalhavam a história da África e o ensino, e, posteriormente, discutimos sobre a inserção do samba como recurso didático alternativo. Em seguida, mobilizamos ferramentas para reprodução de vídeo e slides.
Durante a execução da aula, primeiramente concedemos espaço aos estudantes para que pudessem apresentar suas concepções de realeza e, logo após, discutimos sobre as diferentes concepções do tema em diferentes tempos e sociedades, contextualizando, dessa forma, os impérios africanos geográfica e historicamente. Depois, dedicamos o segundo momento da aula à reprodução do samba enredo do Salgueiro com a apresentação da letra para que eles pudessem acompanhar e questionar palavras desconhecidas. A partir daí, com base na música, discutimos interativamente não somente sobre as Candaces, as rainhas-mães, como também outras rainhas ressignificadas na cultura pop da mídia. Usamos, por exemplo, a figura da Cleópatra tanto na visão cinematográfica quanto no videoclipe da cantora Katy Perry, mostrando, posteriormente, como seria sua real fisionomia em imagens.

RESULTADOS: Recursos audiovisuais costumam atrair a atenção dos alunos mais do que aulas puramente expositivas e dessa vez não foi diferente: houve interesse, questionamentos e interação. Todavia, percebemos a rejeição de alguns alunos à musicalidade presente no samba através de comentários (“Isso é macumba”) e gestos zombeteiros. De forma semelhante, ao compararmos a figura cinematográfica da Cleópatra branca, com a figura histórica negra, a concepção de beleza dos alunos se mostrou eurocêntrica, exigindo uma posterior intervenção didática, sobre as concepções de beleza, autoestima/autorreflexão; além de noções relacionadas à negritude e à positivação do fenótipo africano.

CONSIDERAÇÕES FINAIS: Como fonte de pesquisa, a música permite a integração da forma e conteúdo como força de expressão e comunicação. O presente trabalho demonstrou como esse recurso didático permitiu o levantamento de questões de gênero, representações de poder, concepções de beleza, negritude e influência da indústria audiovisual nos discursos, imagens contemporânease na autoimagem dos estudantes. Ressaltamos, dessa forma, a importância do uso de novas metodologias que permitam que professor e aluno vejam de forma crítica tanto a história vivenciada em outros tempos e espaços, quanto suas práticas sociais atuais.

REFERÊNCIAS
DAVID, Célia M.. Música e ensino de História. In: Malatian, Teresa; David, Célia M.. Pedagogia Cidadã: Cadernos de Formação. Franca: UNESP, 2006.
HERNANDEZ, Leila Leite. A África na Sala de Aula: Visita à história contemporânea. Selo Negro, 2005.
LECLANT, J. O Império de Kush: Napata e Meroé; HAKEM, A.M.ALI, A civilização de Napata e Meroé In.: História Geral da África II, África antiga. Editado por GarnalMokhtar. Brasília: UNESCO, 2010.
WACHOWICZ, Lilian Anna. O método dialético na didática. Campinas: Papirus, 1995.

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