terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Racismo no Brasil: trabalhando com documentos


Para o Dia da Consciência Negra (20 de novembros), planejamos uma série de atividades, principalmente debates e discussões sobre o racismo e a violência racial ainda existente no Brasil. Como estratégia de discussão e trabalho, planejamos trabalhar com os documentos existentes no acervo documental do Movimento Negro Unificado de Pernambuco, e que estão digitalizados no Laboratório de História Oral e da Imagem da UFPE (LAHOI). Escolhemos para trabalhar com alunos exemplares de jornais editados e publicados por movimentos negros não apenas de Pernambuco, mas de outros Estados, nos quais diversos assuntos que ajudam a compreender a história da África e da Cultura Negra no Brasil, bem como problematizam questões históricas vividas por negros e negras no Brasil desde o momento imediato do pós-abolição, como a violência policial, o racismo, dentre outras questões.
Além da documentação (jornais), organizamos uma pequena exposição, constituída de seis banners, nos quais mostramos a discussão travada pelos movimentos negros nessa documentação acerca da própria história do 20 de novembro e da luta por reconhecer Zumbi como herói nacional, a história do MNU em Pernambuco, além do combate ao racismo e à violência policial.

Abaixe os documentos aqui.


O MOVIMENTO NEGRO UNIFICADO (MNU) EM PERNAMBUCO
ESTRATÉGIAS DE LUTA E RESISTÊNCIA

O projeto trabalha com o acervo documental do Movimento Negro Unificado em Pernambuco, situado na Casa da Cultura, e tem por objetivo discutir as estratégias de luta e resistência levadas a efeito pelo movimento no combate ao racismo e à discriminação racial, bem como outras estratégias que discutem a violência policial que atinge principalmente os jovens negros, o desemprego, questões relacionadas à situação da mulher negra e outras. Como estratégias de reconhecimento do movimento apontamos a luta para que o dia 20 de novembro, dia da morte de Zumbi, fosse reconhecido como dia nacional da consciência negra.
O acervo do MNU-PE é constituído por uma grande variedade de documentos, dentre os quais se destacam jornais, boletins, folhetos e panfletos das diversas atividades desenvolvidas ao longo dos seus 25 anos de luta e resistência, e que aqui estão presentes dando uma amostra de sua riqueza e importância. 




ZUMBI – HERÓI DA RESISTÊNCIA NEGRA


A figura de Zumbi foi eleita como símbolo da luta e resistência dos negros escravizados e dos movimentos negros no Brasil no final da década de 1970, em meio a estudos históricos que ressignificaram a luta quilombola e ao surgimento dos movimentos negros pelo Brasil afora.  Zumbi significa o herói da resistência negra e da luta por direitos. O 20 de novembro foi proposto como Dia da Consciência Negra para lembrar a todos a luta dos negros e negras na conquista de direitos e no combate ao racismo e à discriminação racial. 




DIA NACIONAL DA CONSCIÊNCIA NEGRA

Em 20 de novembro celebra-se O Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, tornado feriado nacional oficialmente pela lei nº 12.519, de 10 de novembro de 2011.  Nesse dia, em 1695, Zumbi, o então líder do Quilombo dos Palmares – situado entre os estados de Alagoas e Pernambuco, na região Nordeste do Brasil, foi morto por bandeirantes que lutaram para destruir o quilombo. 
A ideia de lembrar a morte de Zumbi como um dia de luta e de conscientização foi proposta por Oliveira Silveira, poeta gaúcho, em 1971, juntamente com outros militantes do grupo Palmares. Para estes, não havia sentido em se comemorar o 13 de maio, uma vez que a Abolição da escravidão não tinha significado o fim da opressão, do racismo e da marginalização do negro. Era preciso um dia para unificar as lutas e fortalecer a identidade negra. Esse dia, o 20 de novembro, tornou-se bandeira de luta dos movimentos negros por todo o Brasil até sua oficialização em 2011.






As lutas do Movimento Negro Unificado em Pernambuco
  Combate ao racismo

O Movimento Negro Unificado (MNU) historicamente pauta sua militância no combate ao racismo, entendendo este como o problema central da situação precária a que a população negra é exposta no Brasil. Assim, a luta contra o racismo pautou o Movimento Negro Unificado em toda sua existência e está presente em toda a documentação de seu acervo nas mais diversas formas, desde notícias de jornais a panfletos e campanhas nacionais.




     Violência policial

A violência policial é um problema muito discutido na atualidade, mas não é um tema recente no Movimento Negro! Ao contrário, está presente em todas as discussões do MNU e transparece na documentação, principalmente nas denúncias publicadas nos jornais. Mas também foi alvo de repetidas campanhas nacionais, denunciando a violência policial e a impunidade. 



Movimento Negro Unificado (MNU)

Formado em 1978, na cidade de São Paulo, em um período marcado pelo ressurgimento dos movimentos sociais, o MNU surge com objetivo de combater o racismo e o mito da democracia racial, a perseguição policial, ataques racistas, desemprego da população negra, entre outros problemas enfrentados pelos afrodescendentes, e que fizeram com que ocorresse a realização de um Ato Público, no dia 7 de julho de 1978, nas escadarias do Teatro Municipal de São Paulo. Gradativamente discute-se a transformação do dia 20 de novembro, dia da morte de Zumbi, em Dia Nacional da Consciência Negra, combatendo assim, a imagem de passividade do negro, representada pelo dia 13 de maio, Dia da Abolição da Escravatura.
Em Pernambuco

A Frente Negra, fundada no ano de 1934, pode ser considerada precursora dos movimentos negros no Brasil. No Recife, Solado Trindade foi um de seus fundadores, iniciando o debate acerca do lugar que os negros ocupavam na sociedade. Solano Trindade, poeta negro pernambucano, que participou de diversas entidades e eventos dos Movimentos Negros pelo Brasil, criou, com Abdias do Nascimento, o Teatro Experimental do Negro, além de suas obras literárias.
O Centro de Cultura Afro-brasileira (CCAB) que, assim como a FN, foi fundado por José Vicente Lima, um importante militante do movimento negro pernambucano. O CCAB tinha o objetivo de valorizar e promover a cultura negra. 
Outra organização importante foi o Centro de Cultura e Emancipação da Raça Negra (CECERNE), que surgiu em 1980, mas que teve vida breve.
O Movimento Negro do Recife (MNR) também teve vida curta e posteriormente, em 1982, aderiu ao Movimento Negro Unificado nacional, com o objetivo de ampliar suas atividades, transformando-se no Movimento Negro Unificado em Pernambuco (MNU-PE). Acerca dessa transição Inaldete Pinheiro, importante militante desse período, afirma que foi um processo carregado de muitas discussões. Mas para Marcos Pereira, outro militante que também participou desse processo, foi uma decisão “natural” a ser tomada e que contou com apoio de vários militantes, pois “a luta não poderia se travar isoladamente” 


MILITANTES

Inaldete Pinheiro nasceu no ano de 1946 na cidade de Parnamirim, no Rio Grande do Norte. Chegou em Recife no fim da década de 1960, com o objetivo de fazer faculdade de enfermagem e acabou sendo uma das primeiras mulheres a lutar pelo desenvolvimento dos Movimentos Negros na cidade, juntamente com Sylvio Ferreira e Irene Souza. Estas pessoas foram fundamentais para a construção do Centro de Cultura e Emancipação da Raça Negra (CECERNE) e do Movimento Negro do Recife (MNR), que depois aderiu ao Movimento Negro Unificado (MNU).
 Inaldete Pinheiro participou ativamente de diversas atividades relacionadas aos Movimentos Negros no estado, como a organização do primeiro Encontro de Negros do Norte e Nordeste, em 1971, além da participação em maracatus, como o Maracatu Nação Leão Coroado. Vale salientar que Inaldete foi uma figura essencial para a realização das principais mudanças tomadas pelo que seria, posteriormente, o MNU em Pernambuco, para a divulgação desses movimentos e de figuras como a de Solano Trindade. Inaldete também tem vários livros infantis publicados, que tratam da cultura afrodescendente.

Marcos Pereira          
Marcos Antônio Pereira da Silva nasceu no bairro de Afogados, na cidade de Recife, em 1958.             Começou a participar na luta pelos Movimentos Negros em 1978, quando conheceu o Centro de Cultura e Emancipação da Raça Negra (CECERNE), e depois participou do Movimento Negro do Recife (MNR).
Durante este período e, posteriormente, com a transformação do MNR em MNU-PE, Marcos Pereira foi um militante ativo, trabalhando em palestras e festas, para a arrecadação de dinheiro para o desenvolvimento de projetos. Como exemplo, é possível citar a Noite do Cafuné, que aconteceu na década de 1980 durante a Semana da Consciência Negra, que contava com a participação de grupos de maracatus, afoxé e samba reggae.


Martha Rosa Figueira Queiroz
            Martha Rosa Figueira Queiroz é uma historiadora e professora de História da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Entre os vários temas que estuda, se encontram os Movimentos Negros. Além de pesquisar sobre esse tema, Queiroz atuou como militante, durante anos, no MNU-PE, tendo sido coordenadora municipal e coordenadora do GT de Cultura da entidade, e no Afoxé Alafin Oyó, em que foi diretora, além de desenvolver o boletim oficial do grupo, Negração.


            Com a relação próxima entre MNU-PE e Alafin Oyó, Martha Rosa foi uma militante que defendeu dentro do movimento, e em seus trabalhos, a proposta de articulação entre cultura e política dos Movimentos Negros no país. Entre as suas principais atividades é possível ressaltar sua presença em congressos e encontros do MNU, seu trabalho como coordenadora municipal e coordenadora do Grupo de Trabalho de Cultura do MNU-PE, e a fundação do núcleo de base, da cidade de Paulista, denominado Núcleo Malcolm X, que era ligado ao GT Cultura. Esses núcleos tinham o objetivo de trabalhar diretamente com a comunidade, mostrando as ideias e propostas do MNU-PE. Destacam-se também as suas atividades com o Maracatu Nação Leão Coroado, durante o período em que o MNU-PE atuou com projetos para o fortalecimento deste grupo, desfilando e tocando alfaia no maracatu. 




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