quarta-feira, 25 de março de 2015

Cinema, cidade e periferia.


Uma proposta para interessante para provocar o debate sobre a história das cidades, ou mais precisamente de suas favelas e periferias, é usar o cinema como motivador para as discussões a serem feitas com os alunos.

Nesse sentido, indicamos alguns filmes que podem ser vistos pelos alunos e debatidos com os pibidianos. Essas indicações surgiram no debate que hoje fizemos com a equipe da Escola Porto Digital.

Na Quebrada. 2014. Direção de Fernando Grostein Andrade.
"Baseado em fatos reais, o filme segue a trajetória de um grupo de jovens de classe baixa, como Júnior, talentoso no conserto de televisões, Zeca, que testemunhou uma chacina, Joana, garota que sonha com a mãe desconhecida e Gerson, cujo pai está na prisão desde que nasceu. Entre histórias de perdas e violência, eles descobrem uma nova maneira de expressar as suas ideias e as suas emoções: o cinema."



Cinco Vezes Favela. 1962. Direção de Marcos Farias, Miguel Borges, Cacá Diegues, Joaquim Pedro de Andrade e Leon Hirszman.
“Cinco Vezes Favela” é um filme composto de cinco segmentos dirigidos por cinco diretores mostrando problemas sociais nas favelas do Rio de Janeiro em 1962. Este filme é considerado um dos mais importantes do Cinema Novo.
(1) O Favelado
O favelado João está desempregado e não tem dinheiro para pagar o aluguel de seu barraco. Ele tenta pegar dinheiro emprestado com seus amigos, de outro modo ele e sua família serão despejados, mas eles também estão duros. Ele procura o marginal Pernambuco que o convida para roubar um ônibus. Contudo, João é traído por Pernambuco, perseguido pelos pedestres pelas ruas e preso pela polícia.
“O Favelado”é um dos melhores segmentos com uma história de partir o coração. Este segmento pessimista e sem esperança é dirigido por Marcos Farias. O pobre João fica entre a cruz e a espada e sua escolha não resolve a situação de sua família, pelo contrário, deixa ela em uma situação pior que a inicial.
(2) Zé da Cachorra
O grileiro de uma favela expulsa a família de Raimundo, que é recém-chegada na favela. O líder da favela, Zé da Cachorra, protesta e se rebela, mas a família conformista prefere deixar o barraco e a favela.
“Zé da Cachorra” é dirigido por Miguel Borges e mostra a luta de classes onde a classe mais baixa se conforma facilmente, aceitando a situação sem luta.
(3) Couro de Gato
Em uma época quando gatos eram usados para fazer churrasquinho e seu couro para fabricar tamborins e outros instrumentos musicais de escola de samba, três garotos da favela roubam três gatos de seus donos. Dois gatos são recuperados, mas o terceiro é levado pelo garoto para a favela e vendido para um homem.
“Couro de Gato” é dirigido por Joaquim Pedro de Andrade e é o melhor segmento. O dilema do garoto, entre a amizade pelo gato e o dinheiro que ele precisa para sobreviver é espetacular.
(4) Escola de Samba – Alegria de Viver
Um grupo de diretores de uma escola de samba decide eleger um novo presidente. Entretanto, o desfile de carnaval tem uma série de problemas não esperados.
Este confuso segmento é dirigido por Carlos Diegues e é o mais fraco. O problema com o dinheiro arrecadado pela escola de samba e a situação da mulher operária do novo presidente da escola de samba não são claros.
(5) Pedreira de São Diogo
Quando o capataz de um pedreira ordena que sejam usados 500 kg de dinamite para explodir as pedra, um operário alerta secretamente os moradores da favela que moram no topo da pedreira.
“Pedreira de São Diogo” é um segmento dirigido por Leon Hirszman e a unica história que claramente mostra a capacidade das classes baixas de resistirem e mudarem seus destinos juntos.

http://cinemacultura.com/?p=11243

Para uma crítica do filme ver: Artigo da revista Contracampo



Cinco Vezes Favela, agora por nós mesmos. 2010. Dirigido por grupo de jovens cineastas moradores de favelas do Rio de Janeiro e produzido por Carlos Diegues e Renata de Almeida Magalhães. O filme é dividido em cinco episódios, dai vem o titulo do longa-metragem e também fazendo referência ao filme Cinco Vezes Favela (1962). 5x Favela - Agora por Nós Mesmos é o primeiro longa-metragem brasileiro totalmente concebido, escrito e realizado por jovens moradores de favelas (Wikipedia)





Para mais detalhes veja sinopse no Cinepop, ou abaixo.


Em 1962, cinco diretores de classe média alta fizeram, cada qual, um curta mostrando sua visão sobre as favelas cariocas. Eram eles Miguel BorgesCacá DieguesMarcos FariasLeon Hirszman Joaquim Pedro de Andrade. Nomes que entraram para a história do cinema brasileiro, posteriormente.
Exibido na seleção oficial do Festival de Cannes deste ano (só que fora de competição), Cinco Vezes Favela – Agora Por Nós Mesmos não é uma refilmagem do Cinco Vezes Favela do início da década de 60. Inspirado no curtaEscola de Samba Alegria de Viver, segmento que Cacá Diegues dirigiu no longa original, o filme trás agora a visão dos diretores que moraram ou moram em favelas no Rio de Janeiro, todos capacitados através de cursos ministrados por nomes consagrados no cinema nacional, como Walter SallesFernando MeirellesNelson Pereira dos Santos, Ruy GuerraJoão Moreira Salles, dentre outros.
Cacá funcionou como um coordenador do projeto, além de assinar a produção, ao lado de Renata Almeida Magalhães.
Abre parênteses: os dois estiveram presentes (vejam só que ironia) na pré-inauguração das salas Platinum (salas VIP, cujo público-alvo é a elite da capital federal) de um shopping em Brasília. Era um coquetel para a imprensa e convidados “da alta sociedade”, cuja atração principal era... um filme sobre favela! Nada mais exótico.
Pois bem. Naquela ocasião, o produtor disse que a intenção foi fazer um filme leve, sem a visão pessimista de que em favela só existe violência e tráfico; era fazer um filme sobre o cotidiano daquelas comunidades. O comentário só serviu para que o filme caísse no meu conceito, já que em quase todos os segmentos havia criminalidade, violência e outros fatores depreciativos. Uma apresentação contraditória, que eu, pelo menos, fiquei sem entender. Fecha parênteses.
Quanto aos curtas, alguns eram muito bons, outros nem tanto, o que é característico destas compilações de curtas. O primeiro curta, Fonte de Renda, tinha como protagonista um jovem da favela que ganhava uma bolsa na faculdade de direito, onde sofria preconceito indireto, sendo abordado pelos colegas de classe alta, que achavam que, por ele ser da favela, conseguiria drogas facilmente. Um bom curta, com boas atuações e roteiro bem desenvolvido.
No segundo segmento, Arroz com Feijão, duas crianças tentam conseguir dinheiro para comprar um frango, para comemorar o aniversário do pai de uma delas. Assim como o título, trata-se de um curta básico desde a trilha sonora (à Menino Maluquinho), roteiro, direção e atuações. Mais didático e sem graça do que deveria ou poderia.
Concerto para Violino, o terceiro segmento, foi para mim o mais impactante. É o que curta que mais vai de encontro ao discurso de favela-paz-e-amor do Cacá Diegues e mesmo sendo o mais distante do que parecia ser a proposta inicial, foi o que mais me tocou. Tão arrepiante quanto o som do violino. Uma história forte e emocionante, de três amigos que, separados na infância, reencontram-se já adultos, numa situação que explicita os diferentes caminhos que cada um seguiu. Excelente.
Em Deixa Voar, um jovem resolve atravessar a ponte que dá para uma área proibida para quem mora do seu lado, em busca de uma pipa que caiu por lá, na região onde por coincidência mora a garota pela qual ele nutre uma paixão. Atores simpáticos - com destaque para a excelente Vitor Carvalho, no papel do protagonista Flávio - sustentam uma história que poderia ser piegas, mas que dirigida com criatividade e sensibilidade torna-se bem interessante.
O último segmento, Acende a Luz, é o que mais se aproxima do que disse Cacá no início da sessão: é um curta que trás o cotidiano da favela, o que passam seus moradores, aquilo que não é notícia jornalística. Nele, uma comunidade está em polvorosa para que a companhia elétrica coloque para funcionar um dos pontos de luz de lá. É véspera de natal e caberá a um simpático e desavisado funcionário a missão de consertar o tal ponto de luz, antes que anoiteça. É uma espécie de Ó Paí, Ó carioca, cheio de tipos caricatos, mas muito divertido. Encerra de maneira descontraída o longa.
Cacá Diegues demonstra que continua antenado e mantém a lucidez no cinema nacional, frescor que nem todos os cineastas do cinema novo conseguiram conservar. Apesar de não funcionar em alguns momentos, Cinco Vezes Favela – Agora Por Nós Mesmos é uma iniciativa louvável e muito bem-vinda.
Nota:
Crítica por: Fred Burle (Fred Burle no Cinema)





Nenhum comentário:

Postar um comentário