terça-feira, 31 de março de 2015

Em direção ao resgate da memória: o bairro de Jardim São Paulo
                     A história se faz com documentos escritos, quando existem. Mas ela pode e deve ser feita com toda a engenhosidade do historiador... Com palavras e sinais. Paisagens e telhas. Formas de campos e ervas daninhas. Eclipses lunares e cordas de atrelagem. Análises de pedras pelos geólogos e de espadas de metal pelos químicos. Combates pela História (1953), Lucien Febvre.

É certo que há muito a ciência Histórica deixou de ser simples colecionadora de fatos e passou ao entendimento de que seus trabalhos estão direcionados a um esforço de compreensão das ações humanas do passado. Elege uma questão e busca respostas dentre uma imensidão de fragmentos soltos, esparsos, associando obras que já trataram da problemática em tela e um leque documental. O historiador seleciona, analisa e reconstrói histórias, recheando de sentido os fatos que elegeu para esclarecer sua proposta.
Por isso, tomados por uma vontade de investigar historicamente e contribuir para uma melhor compreensão do bairro de Jardim São Paulo, e a fim de tornarmos nossas pesquisas uma fonte futura para outras investigações, caminhamos por partes do passado deste lugar. Com a concepção “mater” de que aqueles que se lançam na “aventura monótona” do trabalho de produção histórica, por entre os jogos de quebra-cabeças incompletos que são os documentos e entre vários meandros – muitas vezes confusos – e intermináveis da história, o fazem com a fome de respostas para problemáticas atuais, instigados por questões levantadas por seu próprio tempo.
Assim, até o momento no Bairro de Jardim São Paulo, em Recife/ PE – onde trabalhamos no projeto PIBID – observamos a ausência de material bibliográfico abundante.  Pesquisando na internet; buscando em acervos públicos, como por exemplo, a Fundação Joaquim Nabuco, doravante Fundaj; indo na biblioteca do Metrorec, situada ao lado da estação Werneck, vimos alguns materiais bibliográficos e fizemos uma leitura rápida de um, que foi colocado pelo funcionário da instituição, como sendo o mais importante. Na Primeira leitura feita deste material, foi notado ser um relatório de impacto urbanístico do projeto de construção do metrô – e pode ser relevante para nossa abordagem. Um texto, onde foi abordada a história do bairro de Jardim São Paulo, consta de autoria de Carlos Bezerra Cavalcanti e denomina-se “Recife e seus Bairros”, mas trata da localidade com apenas um paragrafo, onde diz proceder de um engenho do mesmo nome.
Essa pesquisa bibliográfica, pouco proveitosa até o momento, fez nosso grupo pensar numa outra possibilidade de pesquisa. Desta maneira surgiu a ideia de trabalharmos, prioritariamente, a história do bairro de Jardim São Paulo, a partir das memórias dos moradores mais antigos, através do uso de relatos orais, por ser o meio mais viável para o recolhimento de dados sobre esse bairro. Haja vista a inexistência de fontes escritas que nos ajudem na compreensão da formação desse bairro, consequentemente da sua história. Para isso, o professor Paulo Alexandre (supervisor) teve fundamental importância, pois indicou nomes de fundadores do bairro, como o vereador Maguari, entre outros personagens, que serão de suma importância para a nossa pesquisa.

Não há como negar que para nós Pibidianos, que estamos estudando o bairro de Jardim São Paulo, tem sido um desafio e tanto compreendê-lo.  Sendo um dos motivos, a escassez de fontes escritas que nos apontem respostas, mas, simultaneamente tem sido um prazer e uma oportunidade imensa analisarmos e produzirmos com base em relatos orais tão importantes e essenciais para a nossa pesquisa sobre a história desse bairro, bem como a identidade dos seus moradores. Para isso, como diz Lucien Febvre (1953), a engenhosidade do historiador tem sido o elemento primordial.

2 comentários:

  1. Gostei da reflexão. Muito!
    Acho que essa primeira geração dos Annales foi super importante para alargar a noção de documento, no qual a história oral se inclui, a despeito de Bloch e Febvre não se referirem a ela.
    Algumas coisas gostaria de observar. Primeiro de tudo, não se deve desistir do levantamento biblográfico. O primeiro contato na biblioteca foi bem rápido,e portanto não suficiente. Acho que há sim trabalhos sobre as ferrovias em Pernambuco. Podemos começar com o Peter Eisenberg, Modernização sem mudança, que faz um histórico das ferrovias em Pernambuco. Há também muitas teses e dissertações que discutem o sistema de transporte no Recife, final do século XIX e início do XX. Lembro da dissertação da Noêmia Zaidan sobre os Bondes de burros (isso mesmo, bondes puxados por burros). Deve haver trabalhos sobre a Great Western. De fato há. Vejam no site da Fundaj http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?option=com_content&view=article&id=268:great-western&catid=42:letra-g&Itemid=186

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  2. A segunda questão se refere ao trabalho com história oral. Importantíssimo levantarem as pessoas que vão entrevistar. Mas lembrem-se, fazer história oral não é pegar um gravador e sair gravando. É preciso inserir essas entrevistas num projeto de pesquisa, com o objetivos e metas a serem atingidos. É preciso fazer um roteiro, por exemplo. É preciso saber o que se quer do entrevistado.
    Outra coisa. Evitem o máximo que puderem o uso da palavra "resgate" para se referir à memória. Memória é uma construção do presente sobre o passado. Portanto não está se "resgatando" o passado mas construindo uma memória sobre o mesmo. Leiam os textos que foram recomendados que vocês mesmos observarão a impertinência do uso da palavra resgate quando falamos em memória.

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