domingo, 15 de março de 2015

Resumo do artigo: O ensino de História e a fotografia como representação: uma experiência através de fontes de arquivos locais


Referência: KOEHLER, Ana Luiza. O ensino de História e a fotografia como representação: uma experiência através de fontes de arquivos locais. Plano de Desenvolvimento Educacional, 2008. Disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/164-4.pdf

Por Carolina Braga

Ao enxergar a fotografia como arquivo de memória e documentação explorada como fonte de pesquisa dentro da Nova História, a professora Ana Luíza Koehler reafirma também o papel do/da professor/a de História enquanto possibilitador/a do conhecimento por meio do uso de outros documentos que incentivem a percepção das maneiras de representação coletiva e do imaginário social. Neste sentido, o papel do/da educador/a também seria o de construir o conhecimento histórico por meio de fontes visuais, como a fotografia e o cinema, por exemplo, desenvolvendo a capacidade de estudantes em representar e produzir imagens sobre a realidade local, reconhecendo e valorizando as memórias individuais e coletivas.

Ana Luiza Koehler, é professora de História da rede pública de ensino do Estado do Paraná, tem especialização em Linguagens, Imagens e Ensino de História, pela UFPR e em História da Arte do Século XX, pela Escola de Música e Belas Artes do Paraná. No artigo, é analisado e demostrado na prática a experiência no ensino da História para turmas do Ensino Médio do Colégio Estadual Algacyr Munhoz Mäeder, em Curitiba, no Paraná, com foco na experiência e aprendizagem da comunidade local pelos/as estudantes (Barro Alto) e os impactos da urbanização. No projeto, foram utilizadas fotografias assinadas pelos/as próprios moradores/as, imagens de arquivos público e cartões postais.

Ao utilizar os métodos propostos pela Escola de Annales, a História Cultural estabeleceu relações com outras áreas do conhecimento, reconhecendo além de novos tipos possíveis de documentação, como as produções audiovisuais e a História Oral, novos sujeitos, temporalidades e localidades como produtoras de fontes e conhecimentos históricos. Para análise, a autora utiliza as reflexões de Roger Chartier sobre representações sociais e de Bronislaw Baczko sobre imaginário social, no sentido de contribuir para o debate de significação e interpretação das imagens.

As representações coletivas são reflexo da estrutura e dos comportamentos de um grupo social . Já os imaginários sociais são referências para as representações de identidade de uma coletividade, com códigos condicionadores dos papéis sociais, ou seja, as linguagens visuais são representações coletivas efetuadas pelos discursos, como “produtos do imaginário social”, nas palavras da autora. Assim, fotografias e cartões postais contribuem para a formação do imaginário de uma sociedade e um registro socio-histórico da mesma. As imagens fotográficas, então, como prática social em ascensão nos centros urbanos, devem ser entendidas no contexto social, para terem significados atuais.

Sobre a questão da fotografia dentro do ensino da História, a autora afirma: “O uso da fotografia no ensino, bem como de outros meios iconográficos, coloca-se como uma questão extremamente atual: a da cultura visual contemporânea, dominada pelas técnicas recentes, especialmente os meios informáticos.” (p. 5) Como os veículos e meios de comunicação são influenciadores diretos nos pensamentos da sociedade contemporânea, também influenciam nas nossas formas de organização. “Seguindo esta linha de raciocínio, podemos nos questionar sobre os impactos dessas mudanças cognitivas na educação, e sobre a necessidade de introduzirmos no processo pedagógico os recursos imagéticos, como a fotografia, para que sejam possibilitadas novas leituras de mundo a partir da visualidade.” (p. 6) 

Assim, o desafio tanto para o/a historiador/a como para professores e professoras de História está lançado: reconhecer a fotografia e as produções audiovisuais como fontes de legítimas de documentação (sem esquecer de questioná-las e criticá-las dentro de sua produção no espaço, tempo e sujeito) diferenciando o uso das linguagens como recurso didático e documento histórico. O uso da História Local, nesse sentido, se justifica na visão da fotografia como congelamento de um momento constituído na memória de uma sociedade.

O uso pedagógico da história local se justifica por possibilitar o desenvolvimento de um pensamento histórico através da incorporação das memórias que compreendem o entorno do aluno. Os moradores do bairro ou de outros locais da cidade (que podem ser pais, avós, vizinhos) colaboram com depoimentos (fontes orais), documentos escritos (mapas, recibos, escrituras e outros) e fotografias familiares. A partir do uso desses documentos, de uma problematização e da inserção de conteúdos que servem como embasamento teórico e para a leitura da relação entre passado e presente, produz-se o conhecimento histórico.

Os objetivos elencados pela autora neste processo são:
1- Levar os estudantes a perceberem-se como sujeitos históricos;
2- Resgatar o sentido do conhecimento da disciplina, limitado geralmente à interpretação dos textos dos livros didáticos e dos documentos escritos;
3- Resgatar a valorização dos indivíduos no processo histórico,;
4- Fazer o jovem sentir-se parte de um todo, que é a comunidade do qual faz parte, é estabelecer o sentimento de pertencimento, tão necessário aos indivíduos;
5 - Valorização do patrimônio e da importância da preservação de documentos são absorvidos, se houver continuidade na prática pedagógica.

Ao ler criticamente as imagens, os/as educadores/as devem incentivar assim, que esta atividade questionadora seja realizada pelos/as estudantes no cotidiano, numa sociedade que a leitura é cada vez mais realizada dentro de um processo audiovisual. Isso para que os/as alunos/as possam ler cada vez mais criticamente a própria realidade, construindo um processo de pluralização da “verdade histórica”.

Após relatar a experiência ocorrida na prática na escola, a autora então, retoma como considerações finais os aspectos humanos e teóricos nas relações de ensino. Concordo com a análise de que inserir as linguagens presentes no meio de estudantes é uma maneira não apenas de inseri-los na prática pedagógica, mas também coloca a escola em um lugar de formadora integral do indivíduo, não apenas para ingressar no Mercado de Trabalho, mas também na formação crítica e humana, mostrando que o conhecimento escolar está ligado a própria compreensão das realidades social e pessoal. Neste âmbito, é necessário repensar o sistema de avaliação escolar, buscando uma nova postura da escola com relação aos/as alunos/as. É importante que os/as estudantes se sintam parte ativa, criativa e atuante na escola, inclusive dentro do sistema avaliativo.

Um comentário:

  1. Acho que é um artigo muito bom. Mas eu destacaria a importância do uso das fotografias na construção da história local, e a importância de se promover uma discussão metodológica sobre o uso de material audiovisual. Ou de documentos históricos iconográficos?

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