Referência:
KOEHLER, Ana Luiza. O ensino de História e a fotografia
como representação: uma experiência
através de fontes de
arquivos locais. Plano de
Desenvolvimento Educacional, 2008.
Disponível
em:
http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/164-4.pdf
Por Carolina Braga
Ao
enxergar a fotografia como arquivo de memória e documentação
explorada como fonte de pesquisa dentro da Nova História, a
professora Ana Luíza Koehler reafirma também o papel do/da
professor/a de História enquanto possibilitador/a do conhecimento
por meio do uso de outros documentos que incentivem a percepção
das maneiras de representação
coletiva e do imaginário social. Neste sentido, o papel do/da
educador/a
também seria o de construir o conhecimento histórico por meio de
fontes visuais, como a fotografia e o cinema, por exemplo,
desenvolvendo a capacidade de estudantes em representar e produzir
imagens sobre a realidade local, reconhecendo
e valorizando as memórias individuais e coletivas.
Ana Luiza Koehler, é professora
de História da rede pública de ensino do Estado do Paraná, tem
especialização em Linguagens,
Imagens e Ensino de História, pela
UFPR e em História da Arte do Século XX, pela Escola de
Música e
Belas Artes do Paraná. No artigo, é analisado e demostrado na
prática a experiência no ensino da História para turmas do Ensino
Médio do Colégio
Estadual Algacyr Munhoz Mäeder, em Curitiba, no
Paraná, com foco na experiência e aprendizagem da comunidade local
pelos/as estudantes (Barro Alto) e os impactos da urbanização. No
projeto, foram utilizadas fotografias assinadas pelos/as próprios
moradores/as, imagens de arquivos público e cartões postais.
Ao utilizar os métodos propostos
pela Escola de Annales, a História Cultural estabeleceu relações
com outras áreas do conhecimento, reconhecendo além de novos tipos
possíveis de documentação, como as produções audiovisuais e a
História Oral, novos sujeitos, temporalidades e localidades como
produtoras de fontes e conhecimentos históricos. Para análise, a
autora utiliza as reflexões de Roger Chartier sobre representações
sociais e de Bronislaw Baczko sobre imaginário social, no sentido de
contribuir para o debate de significação e interpretação das
imagens.
As representações coletivas são
reflexo da estrutura e dos comportamentos de um grupo social
. Já os
imaginários sociais são referências para as representações de
identidade de uma coletividade, com códigos condicionadores dos
papéis sociais, ou seja, as linguagens visuais são representações
coletivas efetuadas pelos discursos, como “produtos do imaginário
social”, nas palavras da autora. Assim, fotografias e cartões
postais contribuem para a formação do imaginário de uma sociedade
e um registro socio-histórico da mesma. As imagens fotográficas,
então, como prática social em ascensão nos centros urbanos, devem
ser entendidas no contexto social, para terem significados atuais.
Sobre a questão da fotografia
dentro do ensino da História, a autora afirma: “O uso da
fotografia no ensino, bem como de outros
meios iconográficos,
coloca-se como uma questão extremamente atual: a da cultura
visual
contemporânea, dominada pelas técnicas recentes, especialmente os
meios informáticos.” (p. 5) Como os veículos e meios de
comunicação são influenciadores diretos nos pensamentos da
sociedade contemporânea, também influenciam nas nossas formas de
organização. “Seguindo esta linha de raciocínio, podemos nos
questionar sobre os impactos dessas mudanças cognitivas na educação,
e
sobre a necessidade de introduzirmos no processo pedagógico os
recursos imagéticos, como a fotografia,
para que sejam possibilitadas novas leituras de
mundo a partir da
visualidade.” (p. 6)
Assim, o desafio tanto para o/a historiador/a
como para professores e professoras de História está lançado:
reconhecer a fotografia e as produções audiovisuais como fontes de
legítimas de documentação (sem esquecer de questioná-las e
criticá-las dentro de sua produção no espaço, tempo e sujeito)
diferenciando o uso das linguagens como recurso didático e documento
histórico. O uso da História Local, nesse sentido, se justifica na
visão da fotografia como congelamento de um momento constituído na
memória de uma sociedade.
O
uso pedagógico da história local se justifica por possibilitar
o
desenvolvimento de um pensamento histórico através da incorporação
das
memórias que compreendem o entorno do aluno. Os moradores do
bairro ou
de outros locais da cidade (que podem ser pais, avós,
vizinhos) colaboram
com depoimentos (fontes orais), documentos
escritos (mapas, recibos,
escrituras e outros) e fotografias
familiares. A partir do uso desses documentos,
de uma
problematização e da inserção de conteúdos que servem como
embasamento teórico e para a leitura da relação entre passado e
presente,
produz-se o conhecimento histórico.
Os
objetivos elencados pela autora neste processo são:
1-
Levar os estudantes a perceberem-se como sujeitos históricos;
2-
Resgatar o sentido do conhecimento da disciplina, limitado geralmente
à interpretação
dos textos dos livros didáticos e dos documentos
escritos;
3-
Resgatar a valorização dos indivíduos no processo histórico,;
4-
Fazer o jovem sentir-se parte de um todo, que é a
comunidade do
qual faz parte, é estabelecer o sentimento de pertencimento,
tão
necessário aos indivíduos;
5
- Valorização do patrimônio e da importância
da preservação de
documentos são absorvidos, se houver continuidade na
prática
pedagógica.
Ao
ler criticamente as imagens, os/as educadores/as devem incentivar
assim, que esta atividade questionadora seja realizada pelos/as
estudantes no cotidiano, numa sociedade que a leitura é cada vez
mais realizada dentro de um processo audiovisual. Isso para que os/as
alunos/as possam ler cada vez mais criticamente a própria realidade,
construindo um processo de pluralização da “verdade histórica”.
Após
relatar a experiência ocorrida na prática na escola, a autora
então, retoma como considerações finais os aspectos humanos e
teóricos nas relações de ensino. Concordo com a análise de que
inserir as linguagens presentes no meio de estudantes é uma maneira
não apenas de inseri-los na prática pedagógica, mas também coloca
a escola em um lugar de formadora integral do indivíduo, não apenas
para ingressar no Mercado de Trabalho, mas também na formação
crítica e humana, mostrando que o conhecimento escolar está ligado
a própria compreensão das realidades social e pessoal. Neste
âmbito, é necessário repensar o sistema de avaliação escolar,
buscando uma nova postura da escola com relação aos/as alunos/as. É
importante que os/as estudantes se sintam parte ativa, criativa e
atuante na escola, inclusive dentro do sistema avaliativo.
Acho que é um artigo muito bom. Mas eu destacaria a importância do uso das fotografias na construção da história local, e a importância de se promover uma discussão metodológica sobre o uso de material audiovisual. Ou de documentos históricos iconográficos?
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