BARBOSA, Vilma de Lurdes. Ensino de História
Local: redescobrindo sentidos. Saeculum – Revista de História: João Pessoa,
2006.
No
artigo em questão, a autora procura mostrar as possibilidades de abordagens da
história local em sala de aula, com maior foco nas turmas de ensino
fundamental. E, primeiramente, faz uma análise crítica acerca do ensino de história
no sistema educacional brasileiro. Chamando a atenção para a existência de um
modelo a ser seguido para o ensino de história dentro das escolas, a autora nos
mostra que estamos sujeitos a uma homogeneização dos conteúdos, que seguem uma cronologia
esquemática e linear, tanto para o ensino de História do Brasil como também de
História geral - História Antiga, Média, Moderna e Contemporânea – e todos eles
formados dentro dos marcos da história europeia. A autora também faz uma abordagem
crítica ao modo como o conhecimento histórico tem sido transmitido dentro das
escolas – “sob a forma de culto aos sujeitos históricos, de glorificação dos
atos individuais, portanto, uma história personalista que enfatiza determinadas
datas, personalidades e fatos isolados de patriotismo” (BARBOSA, 2006, p. 02).
Todos
esses fatores contribuem para agravar o fato de que os estudantes não enxergam
a História como uma ciência, mas como uma matéria decorativa que aborda o
estudo do passado e só se preocupam em memorizar datas, fatos e nomes isolados.
Ou seja, de acordo com a autora, os alunos passam a ser espectadores dos fatos,
sem se fazer necessário qualquer esforço para uma análise ou reflexão do que
está sendo absorvido dentro da disciplina. Ainda nesse âmbito, a autora
relaciona tudo isso às diferenças encontradas na produção do conhecimento
histórico para academia e para escola.
Posteriormente, são levados em
consideração outros problemas que afetam o ensino de história, como por
exemplo, a questão da formação dos professores e a ausência da autonomia na
prática educativa, principalmente no que se refere ao processamento e uso dos conteúdos
dos livros didáticos, que, na maioria dos casos, não levam em consideração que
muitos conteúdos devem ser abordados de acordo com a necessidade de cada local. A partir disso, o artigo nos mostra
o surgimento de “propostas da inclusão do local na Lei de Diretrizes e Bases
(LDB), nos princípios apontados nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs),
ou nas próprias orientações curriculares indicadas pelas Secretarias de
Educação nos estados e municípios brasileiros” (BARBOSA, 2006, p. 06).
Nessas perspectivas, os estudos acerca da
história local e sua aplicabilidade na sala de aula ganham um grande espaço
dentro das discussões acerca dos conteúdos que devem preencher o currículo dos
conteúdos de história, e que a partir disso, podemos dizer que os estudos de
história local podem ser considerados como importantes ferramentas para os
professores de história.
Porém, a autora aponta
uma série de dificuldades a que esses professores estão sujeitos, como nos casos onde os mesmos são “reféns” do
material didático de história e, em se tratando do material de história local,
existente nos municípios ou sobre eles, é notória uma situação de escassez e
inadequação dos mesmos, além disso, pode-se dizer também que existe falta de
preparação para lidar com esse tema que tem uma importância imensurável. Atualmente,
de acordo com o artigo, “o ensino de história local se apresenta na forma de
matéria dirigida à memória e, às vezes, à imaginação, não levando em
consideração qualquer outra propriedade intelectiva do aluno e do próprio
professor, apresentando-se de maneira fragmentada, decorativa, repetitiva,
memorativa, enaltecedora de personalidades e vultos históricos, na qual os
fatos são apresentados como axiomas, dogmaticamente”. E, devido a isso, a
história local encontra grandes dificuldades, não promovendo o raciocínio e reflexão
do aluno sobre o meio em que está inserido, e se tornando um conteúdo onde não
se ensina nem se educa. Além disso, fica claro que é muito importante ressaltar “a
necessidade da efetivação de pesquisas especialmente visando à produção do
conhecimento local e de elaboração de materiais didáticos que contemplassem uma
abordagem de inclusão dos protagonistas da história que efetivamente fazem
parte dos espaços estudados - os professores, alunos e a comunidade local em
geral” (BARBOSA, 2006, p. 08/ 09). Diante
da notória negação da participação popular dentro da história, a história local
passa a ter ainda mais valor quando esta pode propor a aproximação entre
segmentos populares e o ensino de história. E, além disso, com o ensino de
história local também surge a possibilidade de introduzir e de contemplar a formação
de um argumento histórico que contemple não só o indivíduo, mas também a
coletividade. Pois, os Parâmetros nos mostram o ensino de história como meio da
constituição ou confirmação da identidade individual e coletiva dos alunos. Ou
seja, dentro do ensino da história local
[...] apresenta-se a abordagem da história
cotidiana e dos fatos presentes introduzindo a possibilidade de resgatar o
passado, através de variadas formas, entre elas, o uso de fontes disponíveis na
própria localidade - quando existirem: os livros, a literatura de cordel,
músicas e poesias, as fotografias, o patrimônio histórico material e imaterial,
os documentos dos arquivos, bem como, descobrindo e explorando as fontes vivas
através de depoimentos orais. (BARBOSA, 2006, p. 11/ 12).
De
acordo com os PCN’s, o ensino de história local deve estar presente, a princípio,
nos currículos de primeira e segunda série do ensino fundamental, e levando
essa informação em consideração, dentro do artigo a autora apresenta alguns
quadros que dividem os conteúdos do ensino fundamental por ciclos. Nesse
âmbito, pode-se afirmar que, nos PCN’s, a história local aparece como um
importante objeto de referência para o ensino de História. Esses documentos, sugerem
métodos de ensino como por exemplo, o estudo do meio, visitas a exposições, e
pesquisas no local de vivência.
Por outro
lado, esses currículos podem ser vistos tanto como um meio de inclusão como
também de exclusão para determinados conteúdos, e, além disso, nota-se a
fragmentação dos mesmo por séries definindo-se por uma visão conservadora e
acrítica. Por fim, pode-se destacar a importância do ensino de
História local dentro das escolas pois “o aluno deve, sistematicamente, aprofundar
seus conhecimentos, partindo do seu universo mais próximo, ou seja, sua
família, sua escola, passando pela comunidade, estado, país e mundo.” (BARBOSA,
2006, p. 23). E a intenção de se trabalhar o ensino de História local
[...] é de caracterizar, no ensino de
história, o enfoque na ação do aluno não como aprendiz passivo mas como
construtor de saberes e de sujeito capaz de, através da recuperação da memória
de pessoas comuns e de grupos específicos não contemplados até então pela
historiografia tradicional, desenvolver ações práticas na sociedade em que
vive, o que tornaria a aprendizagem da história mais significativa. (BARBOSA, 2006, p. 26)
Vamos salientar a escassez de material didático e as dificuldades de se pesquisar e elaborar materiais didáticos apropriados para o ensino de história local/bairro
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