domingo, 15 de março de 2015

Comentário do artigo: Ensino de História local: redescobrindo sentidos

BARBOSA, Vilma de Lurdes. Ensino de História Local: redescobrindo sentidos. Saeculum – Revista de História: João Pessoa, 2006.
           No artigo em questão, a autora procura mostrar as possibilidades de abordagens da história local em sala de aula, com maior foco nas turmas de ensino fundamental. E, primeiramente, faz uma análise crítica acerca do ensino de história no sistema educacional brasileiro. Chamando a atenção para a existência de um modelo a ser seguido para o ensino de história dentro das escolas, a autora nos mostra que estamos sujeitos a uma homogeneização dos conteúdos, que seguem uma cronologia esquemática e linear, tanto para o ensino de História do Brasil como também de História geral - História Antiga, Média, Moderna e Contemporânea – e todos eles formados dentro dos marcos da história europeia. A autora também faz uma abordagem crítica ao modo como o conhecimento histórico tem sido transmitido dentro das escolas – “sob a forma de culto aos sujeitos históricos, de glorificação dos atos individuais, portanto, uma história personalista que enfatiza determinadas datas, personalidades e fatos isolados de patriotismo” (BARBOSA, 2006, p. 02).                                                     
         Todos esses fatores contribuem para agravar o fato de que os estudantes não enxergam a História como uma ciência, mas como uma matéria decorativa que aborda o estudo do passado e só se preocupam em memorizar datas, fatos e nomes isolados. Ou seja, de acordo com a autora, os alunos passam a ser espectadores dos fatos, sem se fazer necessário qualquer esforço para uma análise ou reflexão do que está sendo absorvido dentro da disciplina. Ainda nesse âmbito, a autora relaciona tudo isso às diferenças encontradas na produção do conhecimento histórico para academia e para escola.            
          Posteriormente, são levados em consideração outros problemas que afetam o ensino de história, como por exemplo, a questão da formação dos professores e a ausência da autonomia na prática educativa, principalmente no que se refere ao processamento e uso dos conteúdos dos livros didáticos, que, na maioria dos casos, não levam em consideração que muitos conteúdos devem ser abordados de acordo com a necessidade de cada local. A partir disso, o artigo nos mostra o surgimento de “propostas da inclusão do local na Lei de Diretrizes e Bases (LDB), nos princípios apontados nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), ou nas próprias orientações curriculares indicadas pelas Secretarias de Educação nos estados e municípios brasileiros” (BARBOSA, 2006, p. 06).    
     Nessas perspectivas, os estudos acerca da história local e sua aplicabilidade na sala de aula ganham um grande espaço dentro das discussões acerca dos conteúdos que devem preencher o currículo dos conteúdos de história, e que a partir disso, podemos dizer que os estudos de história local podem ser considerados como importantes ferramentas para os professores de história.                     
       Porém, a autora aponta uma série de dificuldades a que esses professores estão sujeitos, como nos casos onde os mesmos são “reféns” do material didático de história e, em se tratando do material de história local, existente nos municípios ou sobre eles, é notória uma situação de escassez e inadequação dos mesmos, além disso, pode-se dizer também que existe falta de preparação para lidar com esse tema que tem uma importância imensurável.                                                                                    Atualmente, de acordo com o artigo, “o ensino de história local se apresenta na forma de matéria dirigida à memória e, às vezes, à imaginação, não levando em consideração qualquer outra propriedade intelectiva do aluno e do próprio professor, apresentando-se de maneira fragmentada, decorativa, repetitiva, memorativa, enaltecedora de personalidades e vultos históricos, na qual os fatos são apresentados como axiomas, dogmaticamente”. E, devido a isso, a história local encontra grandes dificuldades, não promovendo o raciocínio e reflexão do aluno sobre o meio em que está inserido, e se tornando um conteúdo onde não se ensina nem se educa. Além disso, fica claro que é muito importante ressaltar “a necessidade da efetivação de pesquisas especialmente visando à produção do conhecimento local e de elaboração de materiais didáticos que contemplassem uma abordagem de inclusão dos protagonistas da história que efetivamente fazem parte dos espaços estudados - os professores, alunos e a comunidade local em geral” (BARBOSA, 2006, p. 08/ 09).             Diante da notória negação da participação popular dentro da história, a história local passa a ter ainda mais valor quando esta pode propor a aproximação entre segmentos populares e o ensino de história. E, além disso, com o ensino de história local também surge a possibilidade de introduzir e de contemplar a formação de um argumento histórico que contemple não só o indivíduo, mas também a coletividade. Pois, os Parâmetros nos mostram o ensino de história como meio da constituição ou confirmação da identidade individual e coletiva dos alunos. Ou seja, dentro do ensino da história local

[...] apresenta-se a abordagem da história cotidiana e dos fatos presentes introduzindo a possibilidade de resgatar o passado, através de variadas formas, entre elas, o uso de fontes disponíveis na própria localidade - quando existirem: os livros, a literatura de cordel, músicas e poesias, as fotografias, o patrimônio histórico material e imaterial, os documentos dos arquivos, bem como, descobrindo e explorando as fontes vivas através de depoimentos orais. (BARBOSA, 2006, p. 11/ 12).     
            
          De acordo com os PCN’s, o ensino de história local deve estar presente, a princípio, nos currículos de primeira e segunda série do ensino fundamental, e levando essa informação em consideração, dentro do artigo a autora apresenta alguns quadros que dividem os conteúdos do ensino fundamental por ciclos. Nesse âmbito, pode-se afirmar que, nos PCN’s, a história local aparece como um importante objeto de referência para o ensino de História. Esses documentos, sugerem métodos de ensino como por exemplo, o estudo do meio, visitas a exposições, e pesquisas no local de vivência.                                             
          Por outro lado, esses currículos podem ser vistos tanto como um meio de inclusão como também de exclusão para determinados conteúdos, e, além disso, nota-se a fragmentação dos mesmo por séries definindo-se por uma visão conservadora e acrítica.               Por fim, pode-se destacar a importância do ensino de História local dentro das escolas pois “o aluno deve, sistematicamente, aprofundar seus conhecimentos, partindo do seu universo mais próximo, ou seja, sua família, sua escola, passando pela comunidade, estado, país e mundo.” (BARBOSA, 2006, p. 23). E a intenção de se trabalhar o ensino de História local

[...] é de caracterizar, no ensino de história, o enfoque na ação do aluno não como aprendiz passivo mas como construtor de saberes e de sujeito capaz de, através da recuperação da memória de pessoas comuns e de grupos específicos não contemplados até então pela historiografia tradicional, desenvolver ações práticas na sociedade em que vive, o que tornaria a aprendizagem da história mais significativa.   (BARBOSA, 2006, p. 26)                                                                                  

Um comentário:

  1. Vamos salientar a escassez de material didático e as dificuldades de se pesquisar e elaborar materiais didáticos apropriados para o ensino de história local/bairro

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