Manoel
Caetano do Nascimento Júnior
No texto “Interações entre o
ensino de História regional e local e a preservação do patrimônio cultural” de
autoria de Moisés Amado Frutuoso, estudante de mestrado da Universidade Federal
da Bahia, doravante UFBA, aborda-se uma temática, no mínimo intrigante “como trazer a história regional e local
para dentro da sala de aula?”. O intuito do texto seria o de formar – ou se
melhor preferirem construir – a memória coletiva e a identificação com o local
onde os sujeitos da aprendizagem estão inseridos, para assim, possibilitar a
conscientização e, posterior preservação dos Patrimônios existentes em
determinadas localidades ou saber problematizar a importância de tal herança,
para que a sociedade não venha a sofrer perdas decorrentes dos interesses do
poder público que, vez por outra, não reflete o desejo popular.
Para embasar teoricamente seu
trabalho o mestrando da UFBA faz uma abordagem a partir dos primeiros teóricos
da Escola dos Annales (Marc Bloch e Lucien Febvre). A intenção de tratar desses
teóricos é demonstrar como houve uma drástica ruptura, entre a produção do
século XIX e a que foi produzida a posteriori por essa historiografia francesa,
evidenciando a longa tradição destes em produzir história com ênfase nos
lugares – história local. Outra questão relevante é o evidente alargamento das
abordagens, pois se antes era glorificada a história dos grandes líderes e dos
feitos excepcionais, com a Escola dos Annales temas variados e ferramentas
diversas são introduzidos no campo de pesquisa histórica.
No tangente a história regional e
local, propriamente dita, Moisés Amado se apoia em historiadores e estudiosos
do “regional” para explicar as ações que possibilitaram o entendimento do
conceito de “região”. Para a exemplificação do conceito, no corpo do artigo, observam-se
as referências, por exemplo, aos historiadores Durval Muniz de Albuquerque
Júnior, José Costa D’assunção Barros e Janaína Amado. O autor trata da
definição de região como sendo algo conflituoso derivada da ação humana, pois
um grupo precisaria nesta perspectiva se proteger contra outra zona de
interesse – outra região. Um exemplo que ilustra bem a questão seria a disputa eleitoral
para presidência da república do Brasil em 2014, entre Dilma Rousseff e Aécio
neves, pois a candidata do PT teve vitória expressiva na região nordeste,
enquanto candidato tucano conseguiu se sair melhor na região sul. Os interesses
de determinada região – por necessidade dos agentes sociais envolvidos – seriam
fator de homogeneização. Recortar um espação não significa delimitar uma
região, mas se sentir pertencente a ela por um conjunto de regras e dinâmica
interna.
A história regional e local possibilita
também uma compreensão minuciosa de vários pontos, muitas vezes, não
contemplados na história nacional. É justamente contrapondo-se a esta última,
que a história regional e local ganha impulso no final do século XX, pois mostra, por exemplo, a importância de
edificações, representações entre outras riquezas relegadas a segundo plano, ou
até terceiro, em prol de uma pseudo
unidade nacional. Na escola Trajano Mendonça no bairro de Jardim São Paulo no
munício de Recife/PE, onde estou lotado devido participação no projeto PIBID-
UFPE, por exemplo, me chamou atenção o nome do bairro da escola e o nome de
algumas ruas evidenciadas, como é o caso da Rua Guarulhos, pois faz referência
direta a São Paulo seus municípios e ruas. Saber o porquê da referencia a São Paulo no
nome do bairro e das ruas deste bairro do município de Recife possibilitaria
certa compreensão da história do lugar, criando o laço de pertencimento e,
ajudando na conscientização da importância do ambiente no qual está inserido.
No texto, há o estudo de caso da
Igreja do Divino Espirito Santo uma das primeiras construídas no Brasil ainda
na segunda metade do século XVI e, produzida sob os moldes arquitetônicos
Jesuítas. A Igreja fica situada na Vila de Abrantes um dos distritos do
município de Camaçari/BA. O autor procura demonstrar a importância do monumento
para o ensino de história, pois os professores de História, a partir de tal
monumento “edificado”, teriam condições de explicar a história local, concatenar
com a produção nacional e mundial do período. Este estudo traria,
possivelmente, uma identidade coletiva e fortaleceria a memória social. Moisés
Amado advoga a necessidade desse ensino voltado para o “local” como quem trava
uma batalha. Mas toda essa militância é exposta devido aos desmandos do poder
público que, contra determinação do Instituto do Patrimônio Artístico Cultural
da Bahia (IPAC-BA) modificaram, de forma arbitraria, a paisagem original
instalando no terreiro – também do período jesuíta – uma praça e recursos de
distração para a população.
O autor ainda advoga ser o
trabalho do professor de História – de uma forma geral – apresentar aos alunos
não só a história dos acontecimentos, fenômenos ou feitos nacionais, mas
mostrar a história local na tentativa de fazer o público alvo da aprendizagem
se sentir pertencente e atuante, para poder em outros momentos, lutar contra os
desmandos da prefeitura de Camaçari. O professor precisaria sair de sua zona de
conforto e de seu apego a livros didáticos – que muitas vezes nada falam sobre
a região e preferem valorizar a história nacional e mundial – e tomar uma
postura de pesquisador. Os instrumentos para abordagem da História regional e
local são diversos, como por exemplo, músicas, danças edificações, e etc.
Caberia ao docente não se acomodar, mesmo sabendo da existência de possíveis
barreiras, como uma direção escolar pouco compreensiva, deveria atuar no
sentido de construir essa memória social. Agindo dessa forma a história ensinada
em sala de aula seguira em sentido crescente começando no ensino fundamental,
com a história local e a medida que os alunos fossem avançando chegar ao mundial.
Mas, os alunos também devem rever o ensino de história local no ensino médio,
desta vez com propósitos mais complexos de procurar respostas a lacunas existentes
na história em que estão inseridos. Para isto passeios e visitas a locais de relevância
histórica são indispensáveis, mas devem ser conduzidas e orientadas pelo
professor.
O texto trata de um monumento
importante, mas não apresenta a visão dos nativos da Vila de Abrantes, tornando
difícil fazer um comentário sobre o significado do monumento para os moradores.
A Constituição Federal (1988) trata de Patrimônio cultural em seu artigo 216,
mas o monumento precisa ser de relevância para uma determinada sociedade –
creio que a apresentação de relatos enriqueceria a denuncia. Um caso semelhante
aconteceu em Recife/PE quando empreiteiras tentaram construir edifícios em uma
área de relevância histórica para os recifenses o Cais José Estelita. Foi um
duelo difícil entre a população e os empresários, mas até o momento o resultado
é o possível tombamento do 2ª pátio ferroviário mais antigo do Brasil e,
consequentemente a limitação das ações das empreiteiras.
O texto do Moisés amado é de
grande importância para se tratar da “história dos bairros” no Projeto
PIBID-UFPE por possibilitar a compreensão da metodologia e aguçar a percepção
de como fazer os alunos se interessarem por determinadas questões presentes no
bairro.
Referência:
FRUTUOSO,
Moisés Amado. Interações entre o ensino de História regional e local e a
preservação do patrimônio cultural. Historien, Petrolina, ano 4, n.9. 113-129. 2013.
ok Alerta novamente sobre a relação entre história e educação patrimonial.
ResponderExcluirIsso! Pois o texto trata de um monumento edificado que não foi tombado pelas autoridades. O autor acredita que a metodologia de valorização da história local pode ajudar na construção da identidade coletiva e, a partir daí, ajudar na preservação dos bens que contam a história do lugar de "pertencimento".
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