domingo, 15 de março de 2015

Comentário do artigo "Interações entre o ensino de História regional e local e a preservação do patrimônio cultural"

Manoel Caetano do Nascimento Júnior
No texto “Interações entre o ensino de História regional e local e a preservação do patrimônio cultural” de autoria de Moisés Amado Frutuoso, estudante de mestrado da Universidade Federal da Bahia, doravante UFBA, aborda-se uma temática, no mínimo intrigante “como trazer a história regional e local para dentro da sala de aula?”. O intuito do texto seria o de formar – ou se melhor preferirem construir – a memória coletiva e a identificação com o local onde os sujeitos da aprendizagem estão inseridos, para assim, possibilitar a conscientização e, posterior preservação dos Patrimônios existentes em determinadas localidades ou saber problematizar a importância de tal herança, para que a sociedade não venha a sofrer perdas decorrentes dos interesses do poder público que, vez por outra, não reflete o desejo popular.
Para embasar teoricamente seu trabalho o mestrando da UFBA faz uma abordagem a partir dos primeiros teóricos da Escola dos Annales (Marc Bloch e Lucien Febvre). A intenção de tratar desses teóricos é demonstrar como houve uma drástica ruptura, entre a produção do século XIX e a que foi produzida a posteriori por essa historiografia francesa, evidenciando a longa tradição destes em produzir história com ênfase nos lugares – história local. Outra questão relevante é o evidente alargamento das abordagens, pois se antes era glorificada a história dos grandes líderes e dos feitos excepcionais, com a Escola dos Annales temas variados e ferramentas diversas são introduzidos no campo de pesquisa histórica.
No tangente a história regional e local, propriamente dita, Moisés Amado se apoia em historiadores e estudiosos do “regional” para explicar as ações que possibilitaram o entendimento do conceito de “região”. Para a exemplificação do conceito, no corpo do artigo, observam-se as referências, por exemplo, aos historiadores Durval Muniz de Albuquerque Júnior, José Costa D’assunção Barros e Janaína Amado. O autor trata da definição de região como sendo algo conflituoso derivada da ação humana, pois um grupo precisaria nesta perspectiva se proteger contra outra zona de interesse – outra região. Um exemplo que ilustra bem a questão seria a disputa eleitoral para presidência da república do Brasil em 2014, entre Dilma Rousseff e Aécio neves, pois a candidata do PT teve vitória expressiva na região nordeste, enquanto candidato tucano conseguiu se sair melhor na região sul. Os interesses de determinada região – por necessidade dos agentes sociais envolvidos – seriam fator de homogeneização. Recortar um espação não significa delimitar uma região, mas se sentir pertencente a ela por um conjunto de regras e dinâmica interna.
A história regional e local possibilita também uma compreensão minuciosa de vários pontos, muitas vezes, não contemplados na história nacional. É justamente contrapondo-se a esta última, que a história regional e local ganha impulso no final do século XX,  pois mostra, por exemplo, a importância de edificações, representações entre outras riquezas relegadas a segundo plano, ou até terceiro, em prol de uma pseudo unidade nacional. Na escola Trajano Mendonça no bairro de Jardim São Paulo no munício de Recife/PE, onde estou lotado devido participação no projeto PIBID- UFPE, por exemplo, me chamou atenção o nome do bairro da escola e o nome de algumas ruas evidenciadas, como é o caso da Rua Guarulhos, pois faz referência direta a São Paulo seus municípios e ruas.  Saber o porquê da referencia a São Paulo no nome do bairro e das ruas deste bairro do município de Recife possibilitaria certa compreensão da história do lugar, criando o laço de pertencimento e, ajudando na conscientização da importância do ambiente no qual está inserido.
No texto, há o estudo de caso da Igreja do Divino Espirito Santo uma das primeiras construídas no Brasil ainda na segunda metade do século XVI e, produzida sob os moldes arquitetônicos Jesuítas. A Igreja fica situada na Vila de Abrantes um dos distritos do município de Camaçari/BA. O autor procura demonstrar a importância do monumento para o ensino de história, pois os professores de História, a partir de tal monumento “edificado”, teriam condições de explicar a história local, concatenar com a produção nacional e mundial do período. Este estudo traria, possivelmente, uma identidade coletiva e fortaleceria a memória social. Moisés Amado advoga a necessidade desse ensino voltado para o “local” como quem trava uma batalha. Mas toda essa militância é exposta devido aos desmandos do poder público que, contra determinação do Instituto do Patrimônio Artístico Cultural da Bahia (IPAC-BA) modificaram, de forma arbitraria, a paisagem original instalando no terreiro – também do período jesuíta – uma praça e recursos de distração para a população.
O autor ainda advoga ser o trabalho do professor de História – de uma forma geral – apresentar aos alunos não só a história dos acontecimentos, fenômenos ou feitos nacionais, mas mostrar a história local na tentativa de fazer o público alvo da aprendizagem se sentir pertencente e atuante, para poder em outros momentos, lutar contra os desmandos da prefeitura de Camaçari. O professor precisaria sair de sua zona de conforto e de seu apego a livros didáticos – que muitas vezes nada falam sobre a região e preferem valorizar a história nacional e mundial – e tomar uma postura de pesquisador. Os instrumentos para abordagem da História regional e local são diversos, como por exemplo, músicas, danças edificações, e etc. Caberia ao docente não se acomodar, mesmo sabendo da existência de possíveis barreiras, como uma direção escolar pouco compreensiva, deveria atuar no sentido de construir essa memória social. Agindo dessa forma a história ensinada em sala de aula seguira em sentido crescente começando no ensino fundamental, com a história local e a medida que os alunos fossem avançando chegar ao mundial. Mas, os alunos também devem rever o ensino de história local no ensino médio, desta vez com propósitos mais complexos de procurar respostas a lacunas existentes na história em que estão inseridos. Para isto passeios e visitas a locais de relevância histórica são indispensáveis, mas devem ser conduzidas e orientadas pelo professor.
O texto trata de um monumento importante, mas não apresenta a visão dos nativos da Vila de Abrantes, tornando difícil fazer um comentário sobre o significado do monumento para os moradores. A Constituição Federal (1988) trata de Patrimônio cultural em seu artigo 216, mas o monumento precisa ser de relevância para uma determinada sociedade – creio que a apresentação de relatos enriqueceria a denuncia. Um caso semelhante aconteceu em Recife/PE quando empreiteiras tentaram construir edifícios em uma área de relevância histórica para os recifenses o Cais José Estelita. Foi um duelo difícil entre a população e os empresários, mas até o momento o resultado é o possível tombamento do 2ª pátio ferroviário mais antigo do Brasil e, consequentemente a limitação das ações das empreiteiras.
O texto do Moisés amado é de grande importância para se tratar da “história dos bairros” no Projeto PIBID-UFPE por possibilitar a compreensão da metodologia e aguçar a percepção de como fazer os alunos se interessarem por determinadas questões presentes no bairro.
Referência:

FRUTUOSO, Moisés Amado. Interações entre o ensino de História regional e local e a preservação do patrimônio cultural. Historien, Petrolina, ano 4, n.9. 113-129. 2013. 

2 comentários:

  1. ok Alerta novamente sobre a relação entre história e educação patrimonial.

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    1. Isso! Pois o texto trata de um monumento edificado que não foi tombado pelas autoridades. O autor acredita que a metodologia de valorização da história local pode ajudar na construção da identidade coletiva e, a partir daí, ajudar na preservação dos bens que contam a história do lugar de "pertencimento".

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