segunda-feira, 16 de março de 2015

História local: questões historiográficas.




Li as resenhas que foram postadas aqui neste final de semana e gostaria de ressaltar alguns pontos importantes que foram abordados, dicas e sugestões oriundas das experiências relatadas nos artigos, e questões preocupantes para ficarmos atentos. Mas também vou me ater, ao final, de questões importantes que acredito não tenham sido consideradas por vocês, ou porque não atentaram para sua importância, ou porque não foram mesmo abordadas nos artigos lidos.
Em primeiro lugar, gostaria de ressaltar que muitos artigos apresentaram um consenso na defesa do ensino de história local, ressaltando a importância do mesmo para uma maior compreensão do que seja o conhecimento histórico, e a oportunidade que alunos e professores têm de, ao produzir o conhecimento sobre a história local, alargar também a própria noção de cidadania, na medida em que passam a se compreender como sujeitos da história. Enfim, poderia dissertar mais sobre isso, mas basicamente todos os artigos salientaram pontos positivos no ensino da história local.

Alguns deles, contudo, conforme os comentários aqui postados, têm uma posição mais crítica em relação à história local, e destacaram-se os artigos que analisaram a história local voltada para o ensino fundamental, notadamente nas séries iniciais do ensino fundamental. Alguns apontaram, acertadamente, a ausência de material didático apropriado para o uso em sala de aula, o que nos leva à discutir a importância da elaboração de material didáticos apropriados para o ensino de história local. Outros salientaram os riscos de, ao se fazer uma história local, simplesmente reproduzir uma história de cunho positivista, com nomes das elites e fatos importantes para a localidade, contribuindo para que os alunos tenham uma compreensão, senão errônea, pelo menos comprometedora do ensino aprendizagem de história.
Questões que alertam sobre a necessidade da pesquisa na formação do professor, bem como o cuidado com o trabalho de pesquisa e ensino na escola. Por outro lado, dos artigos que destacaram o problema, todos ressaltaram a importância da pesquisa para que os alunos possam compreender não só que são sujeitos da história, mas também construtores do conhecimento. Este ponto pode nos levar a duas discussões, já levantadas, e que se referem à importância do estudo da história para a formação de cidadania. O ensino de história local, resguardado dos problemas apontados, levaria a uma melhor compreensão do processo histórico e dos procedimentos de como se constrói esse conhecimento. 

Uma questão que despontou nos artigos é a relação entre história local e educação patrimonial, alertando-nos de uma discussão sobre essa relação não deverá ser negligenciada. Evidentemente, também se relaciona essa relação com a formação de cidadania.

Do ponto de vista metodológico, vários artigos apontaram caminhos e experiências interessantes, que vale a pena discutir. Sem ordem de importância eu destacaria o uso das fotografias históricas e outros documentos, como jornais locais, como importantes instrumentos para a construção da história, e que demandam procedimentos próprios.

O mesmo vale para o uso de entrevistas. Muitos dos artigos promovem uma discussão apropriada para o perigo da banalização da história oral e o comprometimento de uma melhor compreensão da história do local. Nesse sentido, salientaram a  importância do debate sobre memória e a relação que os estudantes precisam estabelecer com os mais velhos para poderem não só colher bons depoimentos, mas também para estreitar a compreensão dos sujeitos na história. Destacam a importância de se fazer uma boa discussão sobre história oral, sem ingenuidade, alertando que trabalhar com memória é mais complicado do que simplesmente sair por aí fazendo entrevistas com os mais velhos.  

De qualquer forma, o uso de fontes orais é sumamente importante para se quebrar uma história única e homogênea. Em primeiro lugar por trazer à tona outros sentidos para os eventos ou acontecimentos, outros discursos que podem provocar um deslocamento de sentidos que a história macro busca imprimir. Em segundo lugar por mostrar que a história é uma construção discursiva em que a memória está sempre sendo disputada. Por outro lado, gostaria de alertar que nesse processo, o historiador não dá voz aos "silenciados" e a esta discussão não poderemos negligenciar.

Achei super importante um artigo que alerta sobre a relação entre história oral e história urbana, apontando para novos e importantes debates historiográficos, próprios de uma área de conhecimento interdisciplinar, e que fatalmente deveremos abordar ao fazermos a história dos bairros na região metropolitana do Recife.

Tudo isso para concluir sobre a importância de se trabalhar com o ensino da história local como uma importante ferramenta para também estreitar as relações da escola com a comunidade em que está inserida. Este é um ponto de suma importância, para que a escola não permaneça "incrustada" nos bairros, mas sem com ele estabelecer uma relação mais orgânica, mais cidadã mesmo.

Valeu pelo trabalho! Como podem perceber, conhecimento se constrói assim, coletivamente. Caso eu tenha deixado de abordar alguns ponto que considerem importante e que não foi por mim abordado, façam-no nos comentários. Vamos ao debate!





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