terça-feira, 31 de março de 2015

Resenha de artigo sobre a cidade de Paulista.
LOPES, José Sérgio Leite; ALVIM, Rosilene. Uma memória social operária forte diante de possibilidades difíceis de patrimonialização industrial. 2003.
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No presente artigo, José Sérgio Leite Lopes e Rosilene Alvim trazem aos seus leitores muitas discussões e abordagens de extrema relevância não somente para a história de Paulista em si, mas principalmente no que tocam as relações entre patrão e operários nas fábricas da antiga CTP (Companhia de Tecidos Paulista). A partir daí, os autores utilizam um novo marco temporal e temático antes não visto nos estudos sobre a cidade, levando-se em consideração que estas pesquisas históricas anteriores estavam bem mais associadas ao processo de formação histórica e colonial das áreas pesquisadas.
Ainda assim, é interessante notar que o artigo em questão é produto de certa comparação entre a pesquisa feita por eles mesmos, em Paulista, anteriormente – nas décadas de 1970 e 1980, voltada para a fábrica e seu cotidiano – e a que foi realizada/retomada em 2003, relacionando a História local às tradições e memórias operárias. Neste sentido, são três os objetivos, os alicerces do texto: resgatar a memória dos indivíduos que saíram do campo para trabalhar na CTP em busca de melhores condições de vida, documenta-la para que não haja o esquecimento e perpassa-la aos habitantes que não tiveram contato com a história local. Logo, as histórias vividas por esses indivíduos perpassam e também contribuem para a história da fábrica desde o seu início, passando pelo seu desenvolvimento e culminado na sua derrocada (nos anos 90 do século XX).
Nessa perspectiva e a partir da abordagem empreendida, a pesquisa pode ser direcionada para inúmeros temas que, por conseguinte, se relacionam com diversos ramos do conhecimento – como política, relações de poder e gênero, mudança na composição social de Paulista, êxodo rural, transbordamento geográfico, desmobilização das vilas operárias, participação da Juventude Operária Católica (JOC) dentro da fábrica, dinamização sindical etc. – perfazendo vários campos que convergem na História e na Antropologia do trabalho e dos próprios trabalhadores. Ou seja, é uma forma de acessar e documentar o cotidiano emblemático e, por vezes, conflituoso dos grupos que se desenvolveram na região fabril, o crescimento dessas antigas vilas operárias e sua desarticulação com a fábrica.
Nesta perspectiva, os autores tiveram acesso a fontes anteriormente não utilizadas ou pouco analisadas em seus trabalhos. Exemplos disto é o uso da História Oral, do Jornal do Commercio do Recife; de entrevistas com antigos operários e sindicalistas que detinham fotos ou outras documentações da época; dos arquivos da FUNDARPE; dos documentos presentes no sindicato dos tecelões e na Prefeitura, além dos escritos privados. A metodologia usada, então, engloba toda uma comparação de dados e fotos presentes na pesquisa, sendo de relevância para o atual trabalho no PIBID porque nos possibilita adentrar nas questões sociais e trabalhistas do período e também lança luz a questionamentos presentes em nossas discussões.
O artigo foca, principalmente, nas transformações que sofreram a população e a cidade de Paulista, entre as décadas de 1970 e 2000. Isto se deveu, sobretudo, porque inicialmente a cidade estava muito voltada para o entorno da fábrica e das práticas coronelistas estabelecidas no auge da CTP (1930 – 1950). Posteriormente, com as crises econômicas desencadeadas pela competição com as empresas do sudeste do país, a companhia sobrevive até os anos de 1990. Com o seu fechamento, a cidade então passou a ter um caráter mais mobiliário, sendo designada pelos autores como uma cidade-dormitório porque as pessoas dali tinham de trabalhar em cidades vizinhas, e não mais na fábrica. E foram justamente essas transformações que começaram a despertar o interesse pelo resgate da memória local, já que a cidade foi crescendo com a chegada de novos habitantes e o nascimento de uma geração, que não possuem qualquer ideia referente à história de sua cidade. Outro interessante método usado no texto é a importância dada aos questionamentos da ordem política local, iniciando o leitor em uma espécie de “viagem interpretativa” que engloba desde as dinâmicas estadual e nacional até o universo contextual, histórico mais global.
Sendo assim, o presente trabalho auxilia em uma nova forma de pensar a cidade de Paulista, além de trazer questionamentos que podem ser feitos às documentações anteriormente não analisadas, abordando debates em torno dos ex-operários, seus descendentes, a fábrica e o patrimônio ali presente. Um dos pontos mais importantes na análise desse texto é perceber que as experiências do historiador, dos antigos trabalhadores e dos alunos devem estar interligadas nos estudos que envolvem a cidade, sendo fundamental para os mesmos a compreensão de que podem atuar como testemunhas e agentes da história, sistematizando e colaborando na divulgação da História local. Em linhas gerais, para que se entenda a História do bairro, a pesquisa histórica baseada em fontes orais e documentais, como, por exemplo, a memória, se apresenta como mecanismo de importância imensurável, contemplando a inclusão dos personagens antes esquecidos.                                                                



2 comentários:

  1. Estes pesquisadores estudaram a fábrica de Paulista por diversos momentos, e é super importante observar no que produziram essas diferenças, como vocês mesmo apontaram. Fiquei com uma dúvida. Eles não discutiram patrimônio no artigo?

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  2. Estes pesquisadores estudaram a fábrica de Paulista por diversos momentos, e é super importante observar no que produziram essas diferenças, como vocês mesmo apontaram. Fiquei com uma dúvida. Eles não discutiram patrimônio no artigo?

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