ANÁLISE DA OBRA
O livro aborda a história do bairro do Pina,
desde o início da ocupação da área até as transformações atuais do bairro.
O autor atribui o nome do bairro
a André Gomes Pina, que realizava comércio de açúcar com a Europa e morava no
local que veio a ser conhecido como "Ilha do Pina". Ainda segundo o
autor, ele "se beneficiava do serviço de negros foragidos, que
atravessavam a Bacia do Pina para se embrenhar nos manguezais e viver da pesca.
A formação de uma comunidade de negros pescadores, vivendo em relativa
liberdade naquelas ilhas, justificava-se pelo isolamento do local e a
necessidade de mão-de-obra para os serviços de exportação (SILVA, 2008, p. 17).
O autor explícita, ainda, que os próprios
moradores desta localidade faziam o aterro da área, se utilizando de lama.
Na vida cultural do bairro,
destacam-se os terreiros. Eles serviam como forma de resistência frente às
perseguições do Estado, com reuniões entre a comunidade do Pina com outros
terreiros originais de bairros, no qual a repressão era mais forte. Para não
levantar suspeitas, os moradores utilizavam esses aterros como espaços para o
ensaio do Maracatu, o que não deixava de ser, mas não era a única atividade
exercida e nem a principal.
A principal questão apresentada
pelo autor como um problema vivido pelo bairro é a posse da terra. Em 1979, os
moradores se juntaram e organizaram a União de Moradores do Pina, para debater
a questão da terra e se fortalecer para reivindicar seus direitos,
constantemente atacados pela especulação imobiliária e as medidas higienistas
do poder público.
Na década de 80 foi desenvolvido
o “Projeto Pina”, que, com o apoio do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social),
promoveu o início da urbanização do bairro, com a execução de obras de
pavimentação de ruas e a construção de escola, creches e algumas casas.
Tal movimento de organização dos
moradores se deu na esteira do processo de redemocratização do país, com a
"reorganização política da militância de esquerda, egressa da Igreja católica
progressista, em torno da posse da terra, do direito à moradia" (SILVA,
2008, p. 55).
Em 1987, foi promulgada no Recife
a lei municipal n° 14.947, que instituiu as ZEIS (Zonas Especiais de Interesse
Social), um mecanismo jurídico urbanístico que viabilizaria a urbanização e regularização
fundiária das áreas ZEIS, com mecanismos aparentemente inibidores da
especulação imobiliária, restringindo o remembramento de lotes e proibindo a
construção de edifícios acima de três pavimentos, com o claro objetivo de deter
o avanço selvagem da especulação (SILVA, 2008, p. 55).
Nas décadas de 1990 e 2000 as
associações comunitárias da cidade perderam força, com a implantação de
mecanismos participativos (como a Prefeitura nos Bairros, com Jarbas
Vasconcelos e a Secretaria de Orçamento Participativo, com João Paulo) que
acabou acarretando a desarticulação das associações de moradores e a
auto-iniciativa das pessoas, deixando-as presas à institucionalidade; o
crescimento de Boa Viagem e seu avanço em direção ao Pina, trazendo consigo a
especulação imobiliária; a construção da Via Mangue e a ligação entre o Pina e
Boa Viagem.
O autor destaca no final do seu
livro, uma questão preocupante e que nos chamou bastante atenção, até como um
ponto chave para a nossa pesquisa, que seria a probabilidade da Lei de Uso e
Ocupação do Solo ser modificada com a redução das áreas de ZEIS.
CITAÇÕES E COMENTÁRIOS REFERENTES AO AUTOR
Comentário crítico de Heloísa Arcoverde de Morais, uma das idealizadoras do movimento em Defesa do
Livro e da Literatura como política de Estado; mestre em Literatura Brasileira
pela Universidade Federal da Paraíba, ela escolheu pesquisar as obras dos
poetas pernambucanos. Atualmente, presidencia a Gerência de Literatura e
Editoração da Fundação de Cultura da Cidade do Recife.
“O pesquisador e
arte educador Oswaldo Pereira é um profundo conhecedor das Histórias do Pina,
apresentadas neste livro publicado pela
Prefeitura do Recife.
Oswaldo tem suas raízes fincadas no belo
estuário do Pina e entrelaça o amor pelo
bairro onde mora à ativa participação nos
movimentos sociais e culturais daquela
comunidade... Segundo Antônio Paulo Rezende in
Recife - Histórias
de uma cidade (FCCR):
A cidade e a cidadania podem ser vividas no
sentido de que as escolhas busquem
assegurar condições para que as
definições da história não se limitem às
imposições de uma minoria. O olhar do
historiador está comprometido com essa
abertura para o infinito, com a certeza
de que a história não é um desfilar de nomes e
datas, mas território de invenção e aventura que
tem, na cidade, um espaço privilegiado
para a fabricação de um cenário onde os
personagens não se sintam como
fantoches, mas como produtores do seu próprio
texto. Agente de sua própria história,
Oswaldo Pereira, em Histórias do Pina,
narra, com a precisão de pesquisador,
os percursos desse recanto litorâneo, aberto ao
infinito”.
(Heloísa
Arcoverde de Morais, Recife, setembro de 2008. Disponível
em: http://praiadopina.blogspot.com.br/2010/07/historias-do-pina.html?m=1).
A referida obra: Pina: povo, cultura, memória, de Oswaldo Pereira da Silva, foi utilizada e citada, diversas vezes, por um dos artigos da revista de Geografia (UFPE): IMPACTOS SOCIOAMBIENTAIS GERADAS PELA VIA MANGUE (RECIFE-PE) E ANÁLISE DAS DESIGUALDADES SOCIOESPACIAIS
(Revista de Geografia (UFPE) V.
31, No. 2, 2014,
disponível em: http://www.revista.ufpe.br/revistageografia/index.php/revista/article/viewFile/854/551).
PIBID OSWALDO LIMA FILHO (PINA)
Recife,
março de 2015.
Um problema para discutir. E sério: como não ser preconceituoso com o historiador diletante?! Mas agora não podemos mais chamá-lo de historiador porque a nossa profissão foi regulamentada...Ele coloca questões muito interessantes, como a importância dos terreiros para a região. Mas ou vocês entenderam errado ou ele colocou errado, o que é muito mais provável. Os maracatus ficaram conhecidos por disfarçarem os terreiros, ou seja, quando faziam os toques para os orixás, caso a polícia aparecesse diziam que era maracatu (até onde isso é verdade é um problema). O caso é que isso ocorreu nos anos 1930, e nesse período, até onde eu sei, não havia maracatus no Pina. O Porto Rico é dos anos 1970. Ou seja, o autor pegou essas histórias que ocorreram no Recife e transferiu para o Pina, naturalizando um processo histórico.
ResponderExcluirHistoriador diletante é um problema sério, não é preconceito!
Maria de Sônia, Maria Helena Dona Biu foram Mães de Santo, contemporâneas de Eudes Chagas, Luiz de frança e Dona Santa, foram Fontes vivas entrevistadas por mim. Daí a afirmação de que os terreiros do Recife tocavam os batuques no período citado.
ExcluirQuanto a sua formação em História, pode ficar tranquila, não sou concorrente, seus livros devem versar sobre outro tema.
ResponderExcluirNão conheço suas publicações, mas espero que cause tanta curiosidade quanto as humildes publicações que faço para registrar a história desse bairro, que sofreu tanto preconceito até em seus escritos.