Resenha de
artigo sobre a cidade de Paulista.
LOPES, José
Sérgio Leite; ALVIM, Rosilene. Uma
memória social operária forte diante de possibilidades difíceis de
patrimonialização industrial. 2003.
Disponível em:
No
presente artigo, José Sérgio Leite Lopes e Rosilene Alvim trazem aos seus
leitores muitas discussões e abordagens de extrema relevância não somente para
a história de Paulista em si, mas principalmente no que tocam as relações entre
patrão e operários nas fábricas da antiga CTP (Companhia de Tecidos Paulista).
A partir daí, os autores utilizam um novo marco temporal e temático antes não
visto nos estudos sobre a cidade, levando-se em consideração que estas
pesquisas históricas anteriores estavam bem mais associadas ao processo de
formação histórica e colonial das áreas pesquisadas.
Ainda
assim, é interessante notar que o artigo em questão é produto de certa comparação
entre a pesquisa feita por eles mesmos, em Paulista, anteriormente – nas décadas
de 1970 e 1980, voltada para a fábrica e seu cotidiano – e a que foi
realizada/retomada em 2003, relacionando a História local às tradições e
memórias operárias. Neste sentido, são três os objetivos, os alicerces do
texto: resgatar a memória dos indivíduos que saíram do campo para trabalhar na
CTP em busca de melhores condições de vida, documenta-la para que não haja o
esquecimento e perpassa-la aos habitantes que não tiveram contato com a
história local. Logo, as histórias vividas por esses indivíduos perpassam e
também contribuem para a história da fábrica desde o seu início, passando pelo
seu desenvolvimento e culminado na sua derrocada (nos anos 90 do século XX).
Nessa
perspectiva e a partir da abordagem empreendida, a pesquisa pode ser direcionada
para inúmeros temas que, por conseguinte, se relacionam com diversos ramos do
conhecimento – como política, relações de poder e gênero, mudança na composição
social de Paulista, êxodo rural, transbordamento geográfico, desmobilização das
vilas operárias, participação da Juventude Operária Católica (JOC) dentro da
fábrica, dinamização sindical etc. – perfazendo vários campos que convergem na
História e na Antropologia do trabalho e dos próprios trabalhadores. Ou seja, é
uma forma de acessar e documentar o cotidiano emblemático e, por vezes,
conflituoso dos grupos que se desenvolveram na região fabril, o crescimento
dessas antigas vilas operárias e sua desarticulação com a fábrica.
Nesta
perspectiva, os autores tiveram acesso a fontes anteriormente não utilizadas ou
pouco analisadas em seus trabalhos. Exemplos disto é o uso da História Oral, do
Jornal do Commercio do Recife; de entrevistas com antigos operários e
sindicalistas que detinham fotos ou outras documentações da época; dos arquivos
da FUNDARPE; dos documentos presentes no sindicato dos tecelões e na
Prefeitura, além dos escritos privados. A metodologia usada, então, engloba toda
uma comparação de dados e fotos presentes na pesquisa, sendo de relevância para
o atual trabalho no PIBID porque nos possibilita adentrar nas questões sociais
e trabalhistas do período e também lança luz a questionamentos presentes em
nossas discussões.
O
artigo foca, principalmente, nas transformações que sofreram a população e a
cidade de Paulista, entre as décadas de 1970 e 2000. Isto se deveu, sobretudo,
porque inicialmente a cidade estava muito voltada para o entorno da fábrica e
das práticas coronelistas estabelecidas no auge da CTP (1930 – 1950).
Posteriormente, com as crises econômicas desencadeadas pela competição com as
empresas do sudeste do país, a companhia sobrevive até os anos de 1990. Com o
seu fechamento, a cidade então passou a ter um caráter mais mobiliário, sendo
designada pelos autores como uma cidade-dormitório porque as pessoas dali
tinham de trabalhar em cidades vizinhas, e não mais na fábrica. E foram
justamente essas transformações que começaram a despertar o interesse pelo
resgate da memória local, já que a cidade foi crescendo com a chegada de novos
habitantes e o nascimento de uma geração, que não possuem qualquer ideia
referente à história de sua cidade. Outro interessante método usado no texto é
a importância dada aos questionamentos da ordem política local, iniciando o
leitor em uma espécie de “viagem interpretativa” que engloba desde as dinâmicas
estadual e nacional até o universo contextual, histórico mais global.
Sendo
assim, o presente trabalho auxilia em uma nova forma de pensar a cidade de
Paulista, além de trazer questionamentos que podem ser feitos às documentações
anteriormente não analisadas, abordando debates em torno dos ex-operários, seus
descendentes, a fábrica e o patrimônio ali presente. Um dos pontos mais
importantes na análise desse texto é perceber que as experiências do
historiador, dos antigos trabalhadores e dos alunos devem estar interligadas
nos estudos que envolvem a cidade, sendo fundamental para os mesmos a
compreensão de que podem atuar como testemunhas e agentes da história,
sistematizando e colaborando na divulgação da História local. Em linhas gerais,
para que se entenda a História do bairro, a pesquisa histórica baseada em
fontes orais e documentais, como, por exemplo, a memória, se apresenta como
mecanismo de importância imensurável, contemplando a inclusão dos personagens
antes esquecidos.
Estes pesquisadores estudaram a fábrica de Paulista por diversos momentos, e é super importante observar no que produziram essas diferenças, como vocês mesmo apontaram. Fiquei com uma dúvida. Eles não discutiram patrimônio no artigo?
ResponderExcluirEstes pesquisadores estudaram a fábrica de Paulista por diversos momentos, e é super importante observar no que produziram essas diferenças, como vocês mesmo apontaram. Fiquei com uma dúvida. Eles não discutiram patrimônio no artigo?
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